A Permira, gestora europeia de fundos de private equity que tem € 25 bilhões sob sua gestão, está fazendo seu primeiro investimento direto no Brasil. Até agora, sua exposição ao país se restringia à participação em companhias estrangeiras com alguma atuação aqui, como Informatica (de software), Magento (de comércio eletrônico) e Hugo Boss. A "escolhida" para a estreia foi a Mutant, empresa de software e serviços para call centers criada a partir da divisão da operação brasileira da americana Genesys, a Genesys Prime.
A separação ocorreu por meio de uma troca de ações que foi complementada com dinheiro da Permira, dos sócios da companhia brasileira e do fundo americano Technology Crossover Ventures (TCV) - que já investiu em empresas como Facebook, Netflix e Spotify, mas nunca tinha feito nenhum negócio no Brasil. As participações de cada um dos envolvidos não foram divulgadas.
A Permira tem como política comprar o controle de empresas, mas sem participar da gestão dos negócios. Somando os recursos usados na compra de participação e o que será aplicado na operação da Mutant, o valor total dos investimentos chega a R$ 500 milhões. "Temos uma visão otimista do Brasil em médio e longo prazo. O cenário político e a macroeconomia vão impactar no curto prazo, mas no longo prazo o país vai voltar [a crescer] e será um bom lugar para fazer negócios", disse ao Valor, Phil Guinand, da Permira. De acordo com ele, o foco, no momento, será o crescimento da Mutant, mas o fundo continua a olhar outras oportunidades no mercado brasileiro.
A Permira tem cinco áreas principais de atuação: consumo, serviços financeiros, saúde, indústria e tecnologia. Desde 2011, o executivo João Cox é o consultor da gestora para a América Latina. Cox, que já presidiu a operadora de telecomunicações Claro, está, no momento, atuando com um grupo de executivos para encontrar formas de aportar dinheiro na Oi para reduzir o endividamento da operadora, que está em recuperação judicial.
A Genesys Prime surgiu no fim de 2012 com a aquisição da LM Sistemas pela Genesys. A operação foi anunciada poucos meses depois de a própria Genesys ter sido alvo de uma aquisição: a franco-americana Alcatel-Lucent vendeu a operação à Permira e à TCV por US$ 1,5 bilhão. Segundo Alexandre Bichir, fundador da LM Sistemas e presidente da Mutant, a relação com o fundo nasceu antes mesmo disso. Na verdade, foi a Permira quem apresentou a LM à Genesys, durante um processo de "road show".
De acordo com o executivo, a Genesys Prime manteve, nos últimos anos, uma atuação menos dependente da Genesys, vendendo os produtos da companhia, mas também de outros fornecedores. "A oferta primordial era Genesys, mas nosso perfil sempre foi 'agnóstico', mais ligado ao resultado para o cliente, do que à simples oferta de software", disse.
Com cerca de 50 clientes e 800 funcionários, a Mutant teve receita de R$ 160 milhões em 2015 e pretende chegar a R$ 200 milhões em 2016. A meta é multiplicar o montante por cinco em um período de três anos a cinco anos, disse Guinand. Com a separação dos negócios, a Genesys manterá sua operação no país. Em 2015, a companhia teve receita global de US$ 900 milhões.
Para atingir o objetivo de crescimento, a Mutant pretende ampliar sua presença dentro dos clientes com novos produtos e também comprar empresas menores. "Existe um nicho no Brasil de empresas com receita de até R$ 100 milhões que não estão no radar dos fundos, mas que precisam de investimento para crescer", disse Bichir. No momento, a Mutant já tem conversas com três alvos potenciais.
Em termos de novos produtos, uma das áreas alvo são os sistemas que ajudem as empresas a vender mais. Atualmente, a Mutant está mais focada no atendimento pós-venda. A companhia também pretende investir pesado na criação de sistemas de análise de dados. Para isso, está se aproximando de uma das "investidas" da Permira, a Informatica. Entre os principais concorrentes da Mutant estão Avaya, Interactive Intelligence, Cisco, Plusoft, Neo Assist e CallFlex.