O Grupo Bom Jesus, um dos maiores do setor de agronegócios de Mato Grosso, protocolou na terça-feira seu pedido de recuperação judicial na comarca de Rondonópolis, cidade onde fica a sede da companhia. O grupo deve em torno de R$ 2,6 bilhões, a maior parte em dólar, e nos últimos meses negociava com credores um acordo para o "congelamento" de dívidas.
"Chegamos no nível de 'agressão' por parte de alguns credores, com bloqueio de recebíveis, arrestos, o que começou a comprometer o dia a dia da operação", disse Valdoir Slapk, diretor financeiro do Bom Jesus, que opera com produção agrícola e revenda de insumos, e faturou R$ 2,3 bilhões em 2015.
A companhia cultiva soja, milho e algodão em uma área de cerca de 250 mil hectares, metade em fazendas próprias. A escalada do dólar em relação ao real nos últimos meses e a inadimplência de clientes na divisão de revenda de insumos ajudaram a elevar o endividamento do grupo, que desde outubro de 2015 busca uma solução para seu passivo. De acordo com Slapk, desde o fim de abril deste ano a companhia sofre com o "sequestro de bens e direitos".
Nas últimas semanas, a empresa negociava um "standstill", acordo fora do âmbito judicial que consiste na suspensão de ações de execução de garantias por determinado período. Em entrevista ao Valor no início de maio, Nelson Vigolo, presidente do grupo, afirmou que o conjunto de credores mostrou "comprometimento quase unânime" em torno do acordo. "Continuamos tentando uma composição fora da recuperação judicial, mas não descartamos [essa medida], em último caso", disse o executivo, na ocasião.
Na lista de credores do Bom Jesus, figuram Rabobank, Santander, Itaú BBA, Credit Suisse, entre outros bancos e fornecedores. Mas conforme Slapk, dos 34 credores, seis não demonstraram interesse no acordo. "São credores menores e intermediários, mas que fizeram o maior estrago", afirmou.
Entre os mais resistentes ao acordo estão as tradings, segundo Joel Thomaz Bastos, do escritório DCA Advogados, que representa o Bom Jesus. "A situação se agravaria rapidamente [se não houvesse o pedido de recuperação], por isso a opção foi ter proteção para renegociar".
Mesmo com o pedido feito à Justiça, o diretor financeiro do Bom Jesus disse ainda ter esperança de que os seis credores dissidentes venham a aderir ao acordo de "standstill" até o fim da semana, o que evitaria que o processo de recuperação judicial fosse levado adiante. "É que se deixássemos para pedir a recuperação judicial apenas na segunda-feira que vem, o estrago na companhia poderia ser quase irreversível", afirmou Slapk.
Na atual safra 2015/16, reduções de produtividade, causadas pela estiagem em importantes regiões produtoras de Mato Grosso, também devem impactar os resultados da companhia. A empresa teve uma diminuição de 10% a 12% em sua produção de soja neste ciclo, em função do clima desfavorável. No caso do milho safrinha, que está em fase inicial de colheita, a previsão do Bom Jesus é de uma quebra entre 20% e 30%.