Endividado e envolvido na Operação Lava-Jato, o grupo Galvão se prepara para vender mais ativos na tentativa de ganhar fôlego financeiro. No próximo mês, será a vez de sua fatia de 66% na empresa de saneamento CAB Ambiental. O preço mínimo do ativo foi fixado em R$ 600 milhões. São três os maiores interessados: a francesa Suez, a brasileira Aegea e o fundo GP Investments. Os outros 33% são de propriedade da BNDESPar, braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - que tinha direito de preferência pela fatia à venda, mas não vai exercê-lo.
Além disso, o grupo Galvão também negocia com cinco grupos para tentar se desfazer de sua rodovia federal recém-conquistada, o trecho de 624 km da BR-153 entre Aliança do Tocantins (TO) e Anápolis (GO). A empresa assumiu o trecho no dia 3 de novembro de 2014, após assinar contrato com o governo federal. O preço mínimo exigido pela Galvão é de R$ 155 milhões, que é o mesmo que a companhia avaliou para o ativo na época do leilão (maio de 2014). Por isso, ainda deve haver atualização monetária. O valor poderá ser pago em até seis anos, pelas regras em discussão.
A venda da rodovia é especialmente complicada para o grupo porque o BNDES não liberou os investimentos na estrada nem mesmo o empréstimo-ponte (de curto prazo), que geralmente é concedido para a empresa iniciar as obras enquanto negocia as condições para o empréstimo definitivo, de longo prazo. A rodovia da Galvão está em situação pior do que a de outros grupos que conquistaram rodovias nos leilões de 2013 e 2014. Apesar de nenhum vencedor ter recebido o empréstimo definitivo do banco, a Galvão foi a única a não obter o empréstimo-ponte.
No Ministério da Fazenda, a restrição do BNDES aos vencedores de rodovia não é comentada de forma clara, mas é entendida por membros da equipe econômica como um possível receio dos funcionários do banco em liberar crédito a empresas investigadas pela Operação Lava-Jato. Segundo a equipe econômica, o BNDES tem autonomia para lidar com esses casos.
Procurado para comentar o porquê de não haver crédito para a rodovia da Galvão, o BNDES não respondeu à pergunta - mas afirmou que, até o fim do ano, estima liberar empréstimo de longo prazo para as outras vencedoras de leilões de rodovias no governo Dilma. "O banco sempre trabalhou com a perspectiva de aprovar os empréstimos de longo prazo até o final do segundo semestre deste ano. Essa perspectiva está mantida. O que temos aprovado, contratado e liberado, até o momento, são os empréstimos-ponte de todas as rodovias, com exceção do consórcio da Galvão Engenharia", afirma o BNDES. No início deste ano, a Galvão comunicou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que parou os trabalhos na rodovia por falta de financiamento do banco. Desde então, nada mudou.
A Galvão é a empresa com mais problemas financeiros dentre as vencedoras dos leilões de rodovia feitos durante o governo Dilma Rousseff. Também conquistaram estradas no modelo criado pela presidente, que obriga mais investimento de curto prazo, a Odebrecht, CCR, Invepar, MGO e Triunfo. Enfrentando restrição de caixa e dificuldade para obter crédito, a Galvão foi a única dentre os ganhadores a entrar em recuperação judicial (solicitada em março). Envolvido na Lava-Jato, o grupo chegou a ter executivos - incluindo o presidente, Dario Galvão - presos por decorrência das investigações.
Com história relativamente recente, a Galvão foi uma das companhias mais afetadas pelas investigações. A empreiteira do grupo tinha carteira de contratos de R$ 6,7 bilhões e receita líquida de R$ 3,6 bilhões ao fim de 2014, quando começaram os problemas.
Após a eclosão da Lava-Jato, a empresa já vendeu seus recebíveis da Petrobras, de R$ 1,4 bilhão - de acordo com informações do mercado -, para bancos credores. E também se desfez de uma pedreira por R$ 10 milhões, que serão destinados a encargos trabalhistas decorrentes de demissões feitas este ano.
O grupo foi procurado por meio da assessoria de imprensa para avaliar as vendas de ativos, mas não fez nenhum comentário.