Próximo de completar 50 anos de fundação, com uma dívida de R$ 6,5 bilhões e sem acesso a crédito na praça, o grupo paulista Schahin, de engenharia, infraestrutura e petróleo e gás, não mais suportou a crítica situação financeira. Na sexta-feira, seus advogados entraram com pedido de recuperação judicial em São Paulo. O pedido, que aguarda deferimento do juiz nos próximos dias, abrange 28 empresas, no Brasil e exterior, de um total de cerca de 50 que formam o conglomerado.
Os principais credores do grupo Schain são o Mizuho Bank, do Japão - quase US$ 500 milhões - um sindicato de bancos (tranche A), com US$ 350 milhões, e a empresa DSI (Petrobras), com cerca de US$ 500 milhões. Além disso, há centenas de fornecedores e dívidas fiscal e trabalhista.
A diretoria do grupo mais seus advogados e executivos da consultoria americana contratada para reestruturar a dívida, a FTI Consulting, já iniciaram conversações com representantes dos bondholders e outros credores. Depois de aceito o pedido na Justiça, a empresa tem 60 dias para apresentar o plano e até o fim de 180 dias aprová-lo junto aos seus credores.
Do total da dívida do grupo, mais da metade está com Mizuho Bank, um sindicato de bancos e a DSI (Petrobras)
Ao longo de sua trajetória, o grupo montou cinco divisões de negócios - além de Construção e Engenharia, que abrange a área imobiliária, e Petróleo e Gás, avançou em Concessões de Energia e Telecomunicações (prestação de serviços). Agora, vai se esfacelar. Em comunicado, informou que vai se concentrar apenas em óleo e gás, com a Schahin Petróleo e Gás (que ficou de fora da recuperação judicial), focada em operações rentáveis e de longo prazo.
Essa divisão tem vários contratos de perfuração de poços em campos da Petrobras e, mesmo assim, sofrerá um processo de "downsizing" (redução de tamanho) com a reestruturação dos negócios da Schahin dentro do plano da recuperação judicial, disse Joel Thomaz Bastos, do escritório Dias Carneiro, que está encarregado do processo.
"Queremos fazer uma recuperação responsável", disse o advogado. A empresa informou que, como parte da reestruturação, as empresas envolvidas no processo têm mantido intensas negociações com seus principais credores, ao mesmo tempo que fazem contatos com potenciais investidores interessados em formar parcerias com o grupo e até adquirir ativos. Segundo Bastos, a Schahin dispões de patrimônio imobiliário, os navios-sondas e máquinas e equipamentos.
A área de construção e engenharia, origem do grupo, será desativada, tocando até a conclusão das obras em andamento - talvez demande cerca de um ano. E junto, incorporação imobiliária.
O advogado disse que os negócios de construção e de óleo e gás exigiram capital intensivo e alavancagem alta. Assim, o grupo se viu com endividamento grande, obrigando a reestruturação.
Bastos explicou que o caso da Schahin, pelo número grande de empresas no Brasil e exterior e de vários negócios, foi bem complexo, o que demandou tempo para elaborar o pedido de prevenção contra os credores. Na ação, do Brasil foram incluídas quatro empresas holding, a Schain Engenharia S.A., duas da área imobiliária, uma da área financeira e outra de ativos e quatro não operacionais. Outras 15 têm sede no exterior, a maioria nos EUA.
O Dias Carneiro foi contratado para o elaborar o processo desde os primeiros dias de janeiro. "Foi tudo muito complicado e adotou-se um critério amplo de que aquela que tinha só dívida e só ativos não entrou; quem tinha as duas coisas entrou no processo".
Com os problemas de caixa no grupo, a situação da Schahin Petróleo e Gás também foi se deteriorando nos últimos tempos. Por isso, informou que foi obrigada a paralisar as operações de cinco navios-sonda, de um total de seis, em campos da Petrobras, inclusive no campo de Libra (pré-sal).
As embarcações foram trazidas para a costa e vão aguardar, segundo Bastos, um tempo para projeção de fluxo de caixa com entrada de dinheiro novo nas negociações e novos financiamentos. Após isso, disse, essas sondas deverão voltar a operar. Na sexta-feira, a Petrobrás deu prazo de 15 dias para a Schahin se explicar.
Outro problema que complicou a empresa foi sua inclusão, no início de março, o bloqueio cautelar da Schahin Engenharia pela estatal. Com essa medida, a empresa está temporariamente impedida de assinar novos contratos com a Petrobras e de participar de licitações. A Schahin foi mencionada em investigações da operação Lava-Jato a respeito de pagamentos de propinas para obtenção de contratos na estatal.
Segundo afirmou o grupo, o fechamento dos mercados de crédito no Brasil e no exterior passaram a impossibilitar o financiamento de suas empresas. E que fez "todos os esforços possíveis" para evitar o pedido de recuperação, mas não obteve sucesso. Empreendeu tentativas de lançar títulos no mercado de capitais e renegociar os passivos já existentes para tentar sanar as finanças e até repassar a outros grupos contratos andamento.
De acordo com informação na petição inicial do processo, a decisão de abandonar construção e engenharia foi exigência dos credores do grupo. Os detentores de títulos das controladas de petróleo e gás deram essa condição para que fossem possibilitados novos financiamentos. A companhia aceitou, mas a medida piorou sua situação financeira.
"O grupo Schahin, agindo de forma desesperada, com vistas à obtenção de tais novos financiamentos, aceitou a condição e há algumas semanas encerrou tais atividades", diz o documento. Com isso, a empresa pode ter de pagar multas relativas a quebras contratuais, o que deterioraria ainda mais sua estrutura de capital. A declaração faz parte da parte do pedido de recuperação que explica os motivos da petição.
De acordo com o grupo, a perda de ritmo da economia brasileira, a queda dos preços do petróleo no mercado internacional e a valorização do dólar ante o real já seriam um baque grande o suficiente em suas contas. No entanto, o escândalo deflagrado pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal - que citou a própria Schahin - enfraqueceu ainda mais o ambiente de negócios para a cadeia do petróleo.
O grupo, com receita líquida próxima de R$ 1,4 bilhão em 2013 e abaixo disso no ano passado, já demitiu 2,5 mil funcionários. Hoje, está com 1.200. Com a Schahin, já chega a meia dúzia o número de empresas que recorreram à proteção na Justiça contra seus credores. Antes foram OAS, Galvão Engenharia, Alumini, Iesa e Jaraguá Equipamentos.