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Gyotoku fecha plano de reestruturação

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Em uma área de forte presença industrial na cidade de Suzano (SP), a fábrica de 72mil metros quadrados da Cerâmica Gyotoku se destaca na avenida pelas placas queindicam o show room da empresa. Logo na entrada da unidade, os produtos sãoexpostos, abrindo espaço para a área administrativa e um refeitório de cores claras,que acaba de ser reformado. "Reformamos, estamos mudando algumas coisas.Estamos em um processo de retomada da autoestima da equipe, tentando melhoraro clima interno da Gyotoku", afirma Marcos Sardas, consultor que atualmentecomanda a empresa.

O executivo é o responsável pelo novo modelo de negócios da companhia,combalida durante a crise. Como informou o Valor, há cinco meses a Gyotokuentrou com um pedido de recuperação judicial e agora coloca em prática o processoque Sardas gosta de chamar de "saneamento" das operações. As reformaspropostas por ele envolvem desde a melhora da credibilidade interna, atémudanças no mix de produtos da companhia.

"Os primeiros meses depois do pedido de recuperação judicial não foram céu debrigadeiro, é claro. Não tínhamos capital de giro, nem estoque de insumos. (Umasituação dessa) requer muita habilidade da equipe", conta Sardas. No processo deredefinição da estratégia, ficou decidido que haveria uma redução do portfólio e daprodução da empresa, além do corte de cerca de 200 funcionários.

Nos últimos meses, a Gyotoku, que produz pisos, porcelanatos e revestimentos,passou a focar em produtos diferenciados, de maior valor agregado, que trazemmaior margem às vendas da empresa. Deste modo, há agora uma menor ênfase naprodução de pisos voltados para as classes de baixa renda, por exemplo. O portfólio da companhia, que antes apresentava mais de mil tipos de produtos, foi enxugadoem mais de 300 itens.

A companhia pediu aos credores 18 anos para pagar a dívida, no total deR$ 220 milhões, com 2 anos de carência

Os efeitos da reestruturação na produção também foram fortes: depois do pedidode recuperação, houve uma redução de 20% a 25% da produção da companhia,para cerca de 1 milhão de metros quadrados por mês. As duas unidades fabris daGyotoku - Suzano e Estiva Gerbi, ambas em São Paulo - têm juntas capacidadeprodutiva mensal de 1,6 milhão de metros quadrados. "Passamos a trabalhar sobdemanda. Por um lado é ruim, pois (a produção) por vezes para, outras vezesanda. Mas o bom é que isso gradativamente trouxe maior oxigenação ao estoque,tornando-o mais líquido", analisa Sardas.

Em seu plano de recuperação, que ainda deverá passar pela aprovação doscredores em assembleia no início do ano que vem, a companhia pede 18 anos parapagar a dívida - no total de R$ 220 milhões, sendo metade com bancos -, com 2anos de carência. "Temos confiança de que o plano será aprovado. Tivemos pouquíssimas contestações por parte dos credores", garante o executivo. Segundoele, o pagamento da dívida está atrelado ao faturamento da empresa, o que podefazer com que ela seja quitada antes do prazo previsto.

Com o plano estratégico e de pagamento aos credores em mãos, Sardas afirma quea empresa tem conseguido reconquistar a credibilidade no mercado. Segundo ele,os fornecedores e prestadores de serviços que, logo após o pedido de recuperaçãosó aceitavam pagamentos à vista, agora já começaram a permitir os pagamentos aprazo. Hoje com cerca de 750 funcionários, a empresa prevê que deverá recomeçaras contratações em 2011.

"As demissões e toda essa situação criaram um sentimento interno de insegurança.Mas hoje está muito melhor. O processo de recuperação vai bem, os fornecedores,os clientes e o mercado têm nos dado uma sinalização positiva de que acreditamque a Gyotoku vai se recuperar", resume o executivo.

Os resultados da reestruturação já começaram a ser sentidos em outubro, quando,segundo Sardas, a empresa apresentou um lucro antes de juros, impostos,depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ligeiramente positivo. Paraeste ano completo, o Ebitda da empresa deve ficar próximo de zero, enquanto ofaturamento vai alcançar R$ 210 milhões, ante o total de R$ 265 milhõesregistrados em 2009. Para 2011, as projeções de Sardas apontam para R$ 270milhões de faturamento, com Ebtida na faixa de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões. Deacordo com o executivo, a partir de abril, a empresa deve começar a retomar osníveis de produção anteriores ao pedido de recuperação.

Para Sardas, a empresa já estava em dificuldades antes de 2008, com suasoperações marcadas pela alta alavancagem para investimentos fabris. Quandochegou a crise, o passivo foi crescendo ainda mais, pois a companhia precisava irao mercado captar recursos que, por sua vez, estavam mais caros pela escassez decrédito.

O executivo ficará no comando da empresa até que ela esteja "saneada", o que deve acontecer no terceiro ano da recuperação. Depois disso, a sociedade,composta pelos irmãos Miguel Gyotoku e Koiti Gyotoku, procurará um novoexecutivo no mercado, mantendo a empresa nas mãos da família de origemjaponesa, mas guiada por uma gestão profissional.

Autor:Vanessa Dezem

Fonte: Valor Econômico (22/11/2010)

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