O frigorífico Independência, que na sexta-feira suspendeu temporariamente as atividades em três unidades que operava de forma parcial, ainda busca saídas para suas dificuldades financeiras. Contudo, fontes próximas à empresa, em recuperação judicial desde novembro de 2009, admitem que, a cada dia que passa, uma solução fica mais difícil. "Saída existe, mas não é fácil", reconheceu uma delas.
Além de suspender as operações em Nova Andradina (MS), Colorado d'Oeste (RO) e Santana de Parnaíba (SP), a empresa demitiu cerca de 1.300 funcionários dessas unidades. A decisão, que gerou novas especulações sobre uma possível falência, foi anunciada na sexta-feira, a credores durante teleconferência.
Procurada, a direção do Independência não se pronunciou até o fechamento desta edição, ontem. Mas, de acordo com uma fonte próxima à empresa, o objetivo do Independência, com a medida, é "reduzir custos e conservar o caixa" enquanto negocia uma mudança no plano de recuperação judicial com credores. Entre as alternativas em discussão com os credores do Independência está a conversão da dívida em capital ou a entrada de um investidor na companhia, segundo essa mesma fonte.
As dívidas do Independência envolvidas na recuperação judicial chegavam a R$ 3 bilhões. No plano de recuperação judicial aprovado originalmente, os credores financeiros (com créditos de R$ 2 bilhões) perdoaram 50% das dívidas. Mas ficou definido que se houvesse venda do controle, estes teriam direito a um bônus de subscrição, uma espécie de ação do frigorífico. Nesse caso, 50% do valor da operação seria dividido entre os credores financeiros.
Apesar do deságio elevado concedido pelos credores, o Independência não tem conseguido cumprir o plano de recuperação. Nem mesmo depois de ter obtido, em março deste ano, US$ 165 milhões numa emissão de eurobônus, com vencimento em 2015, para pagar fornecedores e para capital de giro. A empresa, aliás, já informou, no fim de setembro, que não vai pagar os juros agendados sobre o eurobônus. Após a decisão, começaram a surgir especulações no mercado de que a falência da companhia poderia ser requerida.
Como os papéis da dívida têm como garantia todos os ativos tangíveis da empresa, os detentores dos bonds podem ficar com os bens da empresa em caso de default. Eles também teriam prioridade em caso de falência, já que o bônus foi lançado depois de o Independência já estar em recuperação judicial.
"Se houver liquidação [da empresa], será um teste para as leis de falência do Brasil", disse um credor do eurobônus, referindo-se à cláusula que prevê prioridade nos pagamentos a credores que emprestaram recursos depois de uma empresa já estar em recuperação judicial.
Duas outras decisões recentes do Independência dão uma ideia da gravidade de sua situação financeira: em setembro, a empresa negociou com credores - e conseguiu - o adiamento por dois meses do pagamento de parcelas da dívida da recuperação. Além disso, devolveu quatro unidades de produção que arrendava da massa falida do antigo frigorífico Kaiowa.
Afora as quatro unidades devolvidas , o Indepedência ainda arrenda outras cinco em Mato Grosso e uma em Goiás. É dono de oito plantas de produção, uma delas no Paraguai.
O Independência pediu recuperação judicial em março de 2009 afetado pela crise financeira internacional.
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Fonte: www.noticiasagricolas.com.br, com informações do Valor Econômico (11/10/2010)