Empresa, que está em recuperação judicial, usará recurso para pagar fornecedores e como capital de giro.
O frigorífico Independência , que está em recuperação judicial, conseguiu fechar a emissão de um eurobônus de US$ 150 milhões no mercado internacional, com prazo de vencimento em cinco anos. Teve, no entanto, de pagar rendimento de 18% ao ano ao investidor. Com os recursos, a companhia planeja pagar dívidas com pecuaristas e outros fornecedores. Vai usar também parte do montante como capital de giro e para reabertura de plantas de abate hoje fechadas.
A empresa vinha trabalhando no lançamento desses títulos desde dezembro, com a intenção de pagar débitos com fornecedores no valor mínimo de R$ 100 mil até 31 de janeiro passado, data acertada no plano de recuperação judicial. Adiou o pagamento para até 31 de março, como o plano permitia, para ter mais tempo para fechar a operação, que foi estruturada pela americana BTIG, especializada na venda de ativos problemáticos de empresas inadimplentes.
Procurado, o Independência, que está em período de silêncio, não se pronunciou sobre a emissão. Com a nova operação, os investidores internacionais agora têm US$ 675 milhões em eurobônus do Independência. Os novos bônus, no entanto, têm prioridade de pagamento em relação aos demais e garantias nos ativos da empresa, incluindo propriedades imobiliárias e equipamentos. Um terço das novas notas tem amortização em 2013, 50% em 2014 e o resto em 2015.
Como havia prometido aos credores financeiros, o Independência está reestruturando sua direção. A consultoria Alvarez & Marsal, especializada em fusões, aquisições e restruturação de dívidas, foi contratada pelo Independência e colocará um de seus quadros, John Koutras, como diretor-financeiro do frigorífico, segundo fontes próximas do Independência. A consultoria não confirma o nome e diz que as negociações continuam. Tobias Bremer, que estava no cargo quando a empresa pediu recuperação judicial há pouco mais de um ano, é hoje diretor-presidente da empresa e é visto pelos credores como um homem que defende o interesse dos acionistas.
Atualmente, apenas as unidades de abate de bovinos do Independência em Rolim de Moura (RO) e Janaúba (MG) estão abertas, operando com capacidade ociosa . Também estão em atividade os curtumes de Nova Andradina (MS) e Colorado do Oeste (RO) e a fábrica de charque em Santana de Parnaíba (SP).
A intenção da empresa é colocar outras unidades em operação com a entrada do recurso para capital de giro. No documento que apresentou a potenciais investidores, com detalhes sobre a oferta dos novos eurobônus de US$ 150 milhões, o Independência informa que a intenção é retomar as operações nas plantas de Pontes e Lacerda (MT), Presidente Venceslau (SP) e Pires do Rio (GO) em abril. Juína (MT) seria reaberta em maio, Nova Andradina (MS) em julho, Anastácio (MS) em agosto e Senador Canedo (GO) em setembro.
O representante de um credor financeiro do Independência disse que a emissão é positiva, já que "a empresa vale mais funcionando". Apenas com pecuaristas, a dívida do frigorífico é de R$ 194 milhões, conforme a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat). Ao todo, a empresa tem débitos com 1.524 criadores espalhados por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Minas Gerais e Goiás.
No total, as dívidas do Independência chegavam a R$ 3 bilhões. Mas no plano de recuperação judicial, aprovado em novembro, os credores financeiros (com créditos de R$ 2 bilhões) aceitaram dar um perdão de 50% à empresa. Também ficou definido que se houver venda do controle, os credores financeiros terão direito a um bônus de subscrição, uma espécie de ação do frigorífico. Nesse caso, 50% do valor da operação será dividido entre os credores financeiros.
Os US$ 150 milhões obtidos darão fôlego ao Independência, mas os problemas da empresa estão longe de acabar. O J.P. Morgan já obteve vitória em corte em Nova York que determina a execução de um total de US$ 115 milhões em garantias dos controladores da empresa, a família Russo. Outros bancos estão adotando a mesma estratégia.
Autor: Alda do Amaral Rocha e Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico (26/03/2010)