A AgroZ, que está em recuperação judicial, movimenta-se para começar a recuperar rentabilidade e pagar seus credores. A aposta da empresa de Ivan Fábio Zurita, ex-presidente da Nestlé, é na agregação de valor em segmentos onde já atua, como produção de cana e genética bovina. O primeiro passo dessa estratégia, segundo a empresa, é o relançamento comercial da marca de cachaças premium Cachaça do Barão, que estava fora do mercado há quatro anos.
Em evento ontem em Araras, para o relançamento da linha de cachaças premium, o empresário afirmou ao Valor que percebeu que a saída para a recuperação da empresa não seria vender seus ativos, mas investir neles para elevar seu potencial de geração de valor. A recuperação judicial da AgroZ, deferida em novembro de 2017, envolve dívidas de R$ 240 milhões.
Segundo Zurita, a produção da cachaça, a partir de cana orgânica plantada na propriedade de Araras (SP), deve liderar a retomada da AgroZ. Além da cana orgânica e da genética bovina, a empresa também atua na produção de café arábica e cana convencional, que fornece a usinas.
O foco da companhia é vender a cachaça ao food service, como bares e restaurantes de alto padrão, e tornar-se uma referência em cachaça de qualidade no Brasil e em outros países. O alambique, também localizado na fazenda de Araras, tem capacidade para produzir 250 mil litros da bebida ao ano a partir de 2,5 mil toneladas de cana plantadas em cerca de 30 hectares.
Atualmente, a AgroZ produz 20 mil litros de cachaça ao ano, apenas sob encomenda. A perspectiva é alcançar o potencial total em cinco anos, segundo Leonardo Queiroz, CEO da AgroZ e genro de Zurita. A maior parte da produção de cachaça será destinada ao mercado doméstico, e 20% devem ser exportados aos EUA e à China - onde está o maior mercado de bebidas de alto luxo do mundo, disse Queiroz.
A expectativa, nesse prazo, é faturar R$ 15 milhões apenas com a cachaça. Atualmente, essa é toda a receita da AgroZ, e que pode se repetir este ano, segundo Zurita.
Com a geração de caixa desses negócios, Zurita pretende quitar suas dívidas nos próximos 15 anos. Segundo ele, o pagamento dos débitos com o banco Pine já está negociado, mas a maior parte da dívida está com quatro credores, a maioria fornecedores. Por conta da dívida com o Pine, Zurita quase perdeu o apartamento onde morava. Para pagar alguns compromissos, a AgroZ já vendeu cerca de R$ 200 milhões em imóveis, disse ele.
A aposta em bebidas é uma forma de contornar os problemas que a AgroZ enfrentou em outras atividades, sobretudo em pecuária, que era seu principal negócio e foi afetado pela crise deflagrada em 2017. O negócio já chegou a gerar receita de R$ 60 milhões, mas em 2017 faturou R$ 12 milhões. Hoje, a AgroZ tem 450 cabeças de gado e vende sêmen bovino e fêmeas matrizes e prenhas.
Queiroz, ex-executivo da Apple e que arrendou o alambique do sogro, afirmou que nos negócios de cachaça e pecuária, a agregação de valor é garantida com alta tecnologia, seja para seleção genética dos bovinos, seja para a destilação no alambique. Daqui uns anos, disse, o plano é produzir outros destilados, como rum e gim. "Na próxima semana vou para Cuba estudar o rum", contou.
22/06/2018