O juiz Wendell Karielli G. Simplício, da comarca de Nova Monte Verde (MT), deferiu o pedido de recuperação judicial feito pelo grupo Arantes Alimentos no último dia 9. Sediado em Rio Preto e composto por dez empresas, o grupo tem dívida estimada em R$ 1,5 bilhão. Com a decisão, datada do dia 12 e divulgada somente ontem, o grupo tem prazo de 60 dias para apresentar o plano de recuperação judicial, em que devem constar os meios que serão utilizados para o pagamento dos credores e os documentos que comprovem sua viabilidade econômica. Em nota oficial distribuída na terça-feira, o grupo informou que o pedido de recuperação se fez necessário em função da falta de liquidez, da redução de crédito internacional e da queda na demanda, fatores consequentes à crise financeira internacional. No mesmo comunicado, a empresa informou que a decisão visava proteger o próprio grupo e seus credores e que o plano a ser apreciado pelos credores será apresentado em tempo hábil.
O juiz nomeou a advogada Elione Izete de Souza Gomes, de Cuiabá (MT), como a administradora judicial do processo. Ela informou que ainda não tinha conhecimento dos fatos e, portanto, não teria como comentar o assunto. O contador José Vanderlei Masson dos Santos foi nomeado perito, em função do porte das empresas devedoras, da complexidade e do volume da documentação envolvida. Segundo a sentença, as habilitações de credores deverão ser protocoladas no Ofício da Vara Única da Comarca de Nova Monte Verde, no fórum local (avenida Rondonópolis, centro - CEP 78593-000 - telefone 66 3597-1691), de segunda a sexta-feira das 12 às 18 horas. O despacho do juiz também suspende as ações ou execuções contra o devedor e determina que os mesmos apresentem contas demonstrativas mensais enquanto durar o processo de recuperação.
Segundo a lei, a "recuperação judicial" tem como objetivo viabilizar a superação da crise econômico-financeira enfrentada pela empresa, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores. Ao mesmo tempo em que decidiu favoravelmente ao Arantes Alimentos, o juiz indeferiu o pedido de sustação de protesto de títulos cambiais, também solicitado pelo grupo. A justificativa para a decisão considera que a recuperação judicial também prevê a proteção ao mercado de crédito. "Logo, os privilégios dados aos devedores, a fim de superar a situação de crise de liquidez, não podem afastar a proteção ao mercado de crédito", diz o despacho. Os representantes do grupo foram procurados ontem pelo Diário, mas a assessoria de imprensa novamente informou que eles não iriam se pronunciar.
Expansão
O projeto de expansão do grupo Arantes, que emprega cerca de 4 mil pessoas e atua no setor de carnes e derivados, começou em 2006. Com capital próprio e crédito em abundância, o grupo lançou uma agressiva estratégia de crescimento, que incluiu a aquisição dos frigoríficos Hans e Eder, de embutidos, e do Sertanejo Alimentos (Frango Sertanejo), de Guapiaçu. Também foram arrendadas as instalações do antigo frigorífico Mozaquatro, em Fernandópolis, negócio este que encontra-se em análise de possível rescisão de contrato. O processo foi considerado um sucesso até que houve a mudança brusca no cenário econômico mundial, com o recrudescimento da crise financeira, a partir de setembro do ano passado. A partir dessa inversão de cenário, contratos bancários tiveram prejuízo e tornaram-se um risco para a saúde financeira de curto prazo do grupo. Além disso, parte do passivo bancário composto em dólar teve incremento de 40% e ainda foram registrados prejuízos com as operações derivativas.
Apesar das condições adversas, o grupo acredita, conforme consta na sentença judicial, que a atual situação seja transitória e expressa certeza de que o estado de gravidade é passageiro porque já estão em curso as medidas administrativas e financeiras necessárias ao equilíbrio da receita com as despesas, para sanear a situação de crise. O grupo Arantes Alimentos é composto pelas empresas Arantes Alimentos, Sertanejo Alimentos, Olcav Indústria e Comércio de Carnes, Frigorífico Vale do Guaporé, Industrial de Alimentos Chyenne, Prisma Participações e Empreendimentos, Fiamo Administração de Bens, Pádua Diniz Alimentos, Agropecuária FBH e JJB Indústria de Carnes.
Sertanejo amplia número de demissões
As demissões no Frango Sertanejo, em Guapiaçu, empresa do grupo Arantes Alimentos, já chegam a 200. Ontem, o sindicato da categoria confirmou mais 80 dispensas. Na segunda-feira, as primeiras 120 demissões foram anunciadas. Entretanto, o número de dispensas pode ser maior porque são obrigatórias as homologações no sindicato apenas para funcionários que trabalham há mais de um ano. As demissões no frigorífico avícola são reflexo do pedido de recuperação judicial feito pelo grupo Arantes, em Nova Monte Verde (MT), no dia 9, data em que começaram as dispensas. Segundo o presidente do sindicato dos trabalhadores nas indústrias da alimentação e afins de Rio Preto e região, Eurides Silva, o início das homologações está marcado para a manhã de hoje, na subsede em Guapiaçu. Além do desemprego que pode afetar a vida dos trabalhadores, a preocupação do sindicalista é com o pagamento da rescisão. "Não existem garantias de que os direitos serão pagos", afirmou.
Silva diz que tem tido dificuldades em saber as reais dimensões do problema. "Estou tentando marcar uma reunião com representantes da empresa, mas ainda não consegui", disse. O Frango Sertanejo emprega cerca de 2,4 mil funcionários na matriz, duas granjas, frigorífico de suínos e fábrica de rações. A preocupação da administração municipal é que as demissões tenham impacto profundo na economia do município, de cerca de 16 mil habitantes, já que o Frango é o principal empregador da cidade. "O coração da cidade é o Frango Sertanejo", disse em entrevista na segunda-feira a prefeita Maria Ivanete Hernandes Vetorasso (PSDB), lamentando a notícia das primeiras demissões. Ontem, ela voltou a dizer que está solidária em relação aos problemas da empresa e que está disposição para ajudar no que for possível.
Autor: Liza Mirella
Fonte: http://www.diarioweb.com.br (14/04/2010)