A Mendes Júnior viveu um período de ouro nos anos 70 e 80 com contratos de grandes obras no Brasil e no exterior. Entre elas as da Ponte Rio-Niterói e de Itaipu além de projetos no Iraque, Mauritânia e Chile.
Sua história, iniciada em 1953, teve também como uma marca polêmica uma disputa judicial com o governo federal que se alongou por décadas.
Trata-se de uma demanda por compensações tributárias que a empresa sustenta ter direito e que são referentes a uma hidrelétrica erguida no Pernambuco nos anos 80. A disputa é com a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).
Apesar de derrotas na Justiça, Murillo Mendes afirma que a questão continua em aberto no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao buscar rejeitar o pedido, a Advocacia-Geral da União (AGU) chegou a calcular o valor corrigido em R$ 20 trilhões, cifra negada pela empresa. Documentos nos autos apontaram R$ 1,7 trilhão.
A questão atual para a Mendes Júnior é a Lava-Jato e a recuperação judicial. Como punição por sua implicação em crimes relacionados a desvios em contratos com a Petrobras, a Mendes Júnior está desde o ano passado com selo de inidônea. Isso a impede de assinar novos contratos até abril de 2018.
Há uma tentativa, segundo fontes que acompanham o desenrolar da Lava-Jato, de a empresa colaborar com as investigações. Mas nenhum acordo foi fechado. Murillo Mendes não fala sobre o assunto.
O empresário se diz um otimista. Vive cercado de livros em seu casarão no bairro nobre na Mangabeiras. Acorda às 5h e nada regularmente a partir das 6h no Minas Tênis Clube. Depois vai para a sede da construtora onde tem discussões estratégias. Segundo ele, a empresa voltará a disputar contratos de obras do poder público e para quem demandar serviços.
Mas além da inidoneidade provisória, a construtora precisa lidar com outra dificuldade: sair da recuperação judicial. O empresário diz ter negociado com seus principais credores o pagamento de 50% do que deve a eles e o restante na forma de debêntures. A estratégia é dar a credores [como parte de pagamento] recebíveis referentes a pagamentos em a ver que a empresa tem de contratos públicos.
No ano passado, advogados da empresa, informaram que a companhia tinha a receber cerca de R$ 600 milhões.
São valores referentes a obras feitas por ela e que seus contratantes por razões diversas ainda não tinham pago tudo o que deviam.
No plano de recuperação apresentado há um ano, a construtora deu destaque a um grupo desses devedores e disse que somente o que eles têm de pagar à empresa soma R$ 303,08 milhões.
Isso seria mais do que suficiente para saldar os R$ 253 milhões que a Mendes Júnior deve e que foram objeto da recuperação judicial. A maior parte desse valor é devido a fornecedores e não a trabalhadores. Os advogados da Mendes Júnior dizem que a garantia real que a empresa possui só cobre o caso de um credor: o banco mineiro BMG.
Murillo Mendes procura mostrar confiança. Diz que há "fila" de potenciais clientes da esfera pública interessados em contratar a empresa, à espera do fim dos dois anos de punição.
"Eu acredito que este ano isso esteja resolvido. Que a empresa saia da recuperação."