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Menos de um terço dos pedidos de recuperação judicial são concedidos

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Planejamento equivocado, negociações inflexíveis e ausência de reais perspectivas de recuperação inviabilizam a aprovação dos credores

A recuperação judicial se tornou uma das principais ferramentas jurídicas para empresas endividadas que não conseguem mais pagar seus compromissos financeiros. Porém, uma análise realizada pela consultoria EXM Partners aponta que o excesso de pedidos não reflete verdadeiramente o cenário deste importante instrumento: menos de 30% das solicitações de recuperações judiciais feitas pelas empresas em dificuldades são aprovadas pelos credores e colocadas em prática.

“Os números comprovam que solicitar a recuperação judicial não é sinônimo de salvação, é apenas o início da caminhada” explica Angelo Guerra Netto, sócio da EXM Partners, que reforça: “Fazer a solicitação sem traçar os elementos essenciais para a superação da crise pode ser muito arriscado, uma vez que após a aprovação do pedido, o devedor terá apenas 60 dias para apresentar um plano consistente e convincente”. Em muitas ações, devedores e credores já tem ao menos um consenso em relação ao plano de recuperação judicial antes mesmo do pedido ser protocolado.

Ponto essencial na efetivação de qualquer recuperação judicial, a qualidade do plano desenvolvido precisa abranger todos os detalhes de como se desenvolverão os negócios a partir desse passo - “muitas empresas não deixam claro em seu plano se a atividade que exercem ainda é economicamente viável, se há, por exemplo, mercado consumidor, a ponto de convencerem os credores que existe potencial futuro. É preciso ficar evidente que a recuperação é viável e trará mais resultado aos interessados do que se decretada a falência da empresa”, completa Netto.

Muito do sucesso de uma Recuperação Judicial, passa pela aceitação do empresário, que precisa, além de assumir a situação crítica, acreditar na possibilidade de reestabelecer a atividade empresarial e seus benefícios econômicos e sociais, como geração de empregos, circulação de bens e prestação de serviços. Também é indispensável que as informações disponíveis sejam fidedignas o suficiente para cada tomada de decisão. O tempo de reação é fundamental, a demora e o preciosismo podem ser fatais.

Durante o processo de elaboração do plano, se valer da experiência de uma empresa ou consultoria especializada pode facilitar o andamento do processo, uma vez que caberá a eles identificar e analisar com profundidade os pontos a serem tratados, observar os indicadores de despesa e quais produtos devem ser maximizados e os que precisam ser reduzidos. Atuando em diversas frentes, como por exemplo, na redução das operações, vendas de ativos, no alongamento da dívida da companhia, na avaliação da estrutura, não apenas de pessoas, mas de custo como um todo.

Além disso, durante as negociações com os credores, a intermediação de uma empresa especializada evita que as discussões saiam do plano estratégico, com a interferência inclusive de aspectos emocionais. Para Angelo, em algumas situações, as negociações e os números apontam como alternativa mais rentável a venda de bens e ativos, o que pode ser consideravelmente desgastante para o empresário.

E para que o plano de recuperação seja realmente efetivo, é essencial analisar cuidadosamente cada dificuldade e setor da empresa, o que trará um reflexo muito mais concreto e relevante do que optar por resolver todos os pontos de uma vez. Ele deverá identificar as diretrizes e obrigações que orientarão a empresa a superar a crise, além de prever também indicadores de desempenho e relatórios de mensuração que possam evidenciar a eficácia do plano, e caso necessário ter justificativas para fazer possíveis alterações.

Com relação aos relacionamentos, a dica é agir com transparência, abrindo um canal de contato e negociação com os credores, financiadores, fornecedores e empregados assim que solicitar a recuperação judicial. Desta forma, torna-se possível reduzir as desconfianças, o que poderá, por exemplo, minimizar a possibilidade de interrupção de fornecimento, evitando uma consequente paralisação das atividades por falta de matéria-prima. Manter um relacionamento constante, direto e transparente com clientes atuais também pode aliviar a geração de caixa entre o pedido e a aprovação da recuperação judicial.

Depois da aprovação do plano pelos credores e da homologação realizada pela justiça, o empreendedor terá o dever de cumprir as regras estabelecidas, com o objetivo de garantir a recuperação da empresa.

“Traçar ações efetivas que mostrem o caminho para buscar a sustentabilidade do negócio é a chave para não apenas aprovar a recuperação judicial como também para sair dela. Se medidas corretas forem tomadas, com planejamento bem elaborado, execução coordenada, participação e a concordância dos credores, esta é uma ferramenta muito importante para superação da crise nas empresas” conclui Angelo.

28/03/2017

 

 

Autor(a)
Paulo Mathias

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