A escalada no conflito comercial com os Estados Unidos pode ter sido a gota d'água para um dos principais importadores chineses de soja, cujo fundador chegou a ser uma das 100 pessoas mais ricas do país.
O Shandong Sunrise Group, cujos negócios consistem na comercialização de alimentos, petróleo e produtos petroquímicos, já estava mal das pernas antes de a guerra com a gestão de Donal Trump irromper. Como os bancos vinham apertando o crédito, o grupo enfrentava dificuldades para manter seu fluxo de caixa. Ainda assim, quando documentos judiciais revelados na sexta-feira da semana passada mostraram que a empresa de Shao Zhongyi havia entrado com pedido de recuperação judicial, foi a presença proeminente do grupo no comércio de soja que foi vista como culpada.
"Não há ninguém aqui porque a empresa naufragou", disse um mal-humorado segurança que cuidava da sede deserta da empresa, na cidade litorânea de Rizho, na província de Shandong. O paradeiro de Shao é desconhecido, segundo o segurança.
Há relatos de que o grupo teria cerca de seis mil funcionários - mas não havia sequer sinal deles na área, que também inclui uma fábrica de processamento de alimentos e uma refinaria, pertencentes ao Shandong Sunrise.
O grupo, também conhecido como Shandong Chenxi Group, foi fundado por Shao em 1994, como uma fábrica de estufas de plástico. A empresa, no entanto, só começou a decolar por volta do ano 2000, quando passou a absorver fábricas estatais de fertilizantes falidas. Começou a importar a soja como matéria-prima para uma fábrica de óleo vegetal adquirida nessa época.
A receita do grupo chegou a 76,9 bilhões de yuans (US$ 11,3 bilhões) em 2014, depois que se tornou uma das apenas 13 empresas chinesas privadas com permissão para importar petróleo. A Shandong Sunrise expandiu-se a ponto de ser uma das maiores comercializadoras de soja da China, sendo responsável por 10% de todas as importações.
Shao se tornou então uma das 100 pessoas mais ricas da China em 2014, ficando em 78º posição na classificação nacional. Sua fortuna pessoal chegou ao auge - 19 bilhões de yuans - em 2016. Ele foi deputado no Congresso Nacional do Povo, o Parlamento chinês, entre 2013 e 2017.
As finanças de seu império comercial, no entanto, sempre estiveram sob pressão. O Shandong Sunrise carecia da competitividade de custos de seus rivais estatais e sua unidade de produtos químicos sofria com as baixas margens de lucro. A área de óleos comestíveis, por sua vez, foi afetada pela queda na demanda por ração de soja para gado, uma fonte-chave de receita.
A empresa enfrentou diversos episódios de crise de liquidez a partir de 2015 e passou a atrasar o pagamento de salários dos funcionários. O auxílio financeiro do governo local a manteve à tona por algum tempo.
As dificuldades financeiras do Shandong Sunrise se tornaram públicas depois de a oferta de crédito ter começado a ficar mais escassa em 2017 e de empresas de arrendamento, exigindo pagamentos atrasados, terem levado o grupo aos tribunais.
A alta das cotações do petróleo neste ano exacerbou o declínio do lucro da unidade química. Quando os preços da soja subiram como reação ao fogo cruzado de tarifas entre Estados Unidos e China, o Shandong Sunrise desistiu da luta. Sua decisão de entrar com pedido de recuperação judicial parece ter sido motivada, em parte, pela incapacidade de garantir conexões políticas de alta hierarquia em Pequim.
A companhia não é a única em apuros na China. O DunAn Group, fabricante de bens industriais, da província de Zhejiang, que fornece equipamentos para metrôs, é outra grande empresa privada que enfrenta profundas adversidades financeiras.
Para o presidente da China, Xi Jinping, que tem a estabilidade no emprego como prioridade, esses sinais indicam como o desafio de conter os danos provocados pela guerra comercial com Trump é cada vez maior.
30/7/2018