A Nippon Steel & Sumitomo Metal endureceu seu conflito com a sócia no bloco de controle da Usiminas, o grupo Ternium- Techint, por meio de um informe publicitário publicado ontem no Valor e uma entrevista coletiva de um de seus principais executivos no Brasil. Ao mesmo tempo refutou acusações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), também acionista da Usiminas.
A siderúrgica japonesa não aceita a eleição de Sergio Leite, indicado pela Ternium com apoio dos empregados, da Previdência Usiminas e do minoritário BTG Pactual. O grupo japonês classifica a decisão como irregular e ilegal. Para a companhia, o que se passou na reunião do conselho de administração realizada em 25 de maio feriu tanto o acordo de acionistas da siderúrgica como a Lei das S.A.
No comunicado, a Nippon Steel diz que vai denunciar "exaustivamente" a eleição e que aguarda decisões "rápidas e adequadas" dos tribunais. O processo corre em sigilo na Justiça de Minas Gerais e em representação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Um desfecho possível, se não houver acordo, é a própria juíza Mariza Porto, que cuida do caso, indicar um terceiro para a presidência.
Em entrevista coletiva realizada em São Paulo, Yoichi Furuta, que é diretor da Nippon Steel e conselheiro da Usiminas, declarou que a melhor solução seria acertar as pontas para resolver o conflito societário, que se arrasta há quase dois anos. Por outro lado, a dificuldade dessa alternativa leva a outra, considerada mais viável: dividir a Usiminas.
O executivo reconheceu que a opção é interessante, mas reiterou que não há nenhuma negociação em curso. Se algo nesse sentido ocorrer, ele crê que o acionista japonês provavelmente ficaria com a unidade de Ipatinga (MG) e o ítalo-argentino com Cubatão (SP).
"A diferença básica [entre Nippon Steel e Ternium] é no raciocínio em relação à Usiminas. Para nós, a Usiminas é independente e de primeira linha, e deve continuar se desenvolvendo assim", declarou. "Para a Ternium, a Usiminas é só mais um negócio na América Latina e serve principalmente para capturar sinergias na região. De resto, há diferenças na gestão e na governança."
A terceira possibilidade aventada por Furuta seria uma reestruturação do setor siderúrgico. Outra usinas poderia realizar fusões ou aquisições que incluíssem a empresa mineira. Ele lembra que em qualquer mercado no mundo com número mais elevado de participantes e excesso de capacidade, como é o caso do Brasil hoje, ocorrem reestruturações.
Mas qualquer consolidação de ativo, acrescentou, dependeria de uma liderança em nível nacional. Isso não deve ocorrer agora, pondera o executivo, principalmente por conta da atual turbulência política no país. Além disso, ele não vê recuperação no horizonte para o mercado brasileiro de aço.
O executivo também rebateu a acusação da CSN de que a entrada da Ternium no capital social da Usiminas representou, na verdade, uma venda do controle para o grupo ítalo-argentino. A tese é reforçada pelo aumento no número de contratos com partes relacionadas, que, segundo a CSN, já chega a R$ 20 bilhões.
"Essa conta da CSN é um total erro", reclamou Furuta. "Os dados estão errados, não temos nem 1% do total de contratos com partes relacionadas", completou. Segundo ele, em breve será publicado um comunicado com dados mais aprofundados a respeito.
Para a Nippon Steel, a CSN, como principal concorrente da Usiminas no segmento de aços planos, tem todo o interesse em tornar o cenário mais turbulento para sua competidora e, por isso, faz essas declarações. Esse é o principal motivo pelo qual a siderúrgica japonesa recorre na Justiça contra a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que permitiu à CSN indicar conselheiros na Usiminas.
No formulário de referência atualizado em 14 de junho, porém, os contratos da Usiminas com a Nippon Steel chegam à cifra de R$ 1,2 bilhão, com saldo existente de R$ 651 milhões. Foram consideradas Nippon Corp. Nippon Steel, Nippon Steel Engineering, Nippon Usiminas e Unigal. A própria CSN aparece com R$ 309,7 milhões, saldo de R$ 89,5 milhões. A Ternium soma R$ 1,95 bilhão nessas transações. São contratos com controladas do grupo ítalo-argentino, como Confab, Siderar, Tenova, Ferrasa e várias subsidiárias da Ternium.
Ainda no anúncio ao mercado, a Nippon acusou a Ternium de agir contra os interesses da Usiminas. Segundo os japoneses, a sócia "espalhou" boatos a instituições financeiras de que a Usiminas estava à beira da falência, no momento em que buscava apoio para rola a dívida. Na época, a Ternium também reclamou do aumento de capital de R$ 1 bilhão.
O texto também mostra que a Nippon Steel suspeita que Leite esteja agindo sob instruções da Ternium, já que demitiu gestores que apoiaram o antigo presidente, Rômel Erwin de Souza, e que participaram da auditoria interna que culminou no afastamento do ex-presidente Julián Eguren devido a pagamentos ilegais.
Um dos motivos citados pela Ternium para colocar Leite na presidência da empresa seria a ineficiência de Souza na gestão. "Diferente do que a Ternium diz, ele é muito capaz", declarou Furuta durante a entrevista.
A Ternium não comentou as declarações do grupo japonês.