Caso da rede de farmácias Santa Marta, que sucumbiu com a crise de 2008, mostra que as empresas estão vulneráveis às turbulências
Goiás está a milhares de quilômetros da Grécia e os comerciantes do Planalto Central do Brasil não teriam, à primeira vista, motivos para perder o sono com o calote do governo grego. Pois teriam.
A rede de farmácias Santa Marta, de Goiânia, por exemplo, foi uma das empresas brasileiras que sucumbiram com crise das hipotecas em 2008 nos Estados Unidos.
Os problemas econômicos enfrentados pelos países da Zona do Euro abalaram novamente a confiança dos mercados mundiais e suas consequências para o Brasil ainda são nebulosas.
Há três anos, a crise americana atingiu em cheio as empresas brasileiras, que ficaram sem crédito para financiar suas operações.
Em janeiro de 2009, logo após o estouro da crise americana, foram protocolados em apenas um mês 74 pedidos de recuperação judicial no Brasil, número 400% superior aos 15 requerimentos feitos em igual período do ano anterior, segundo levantamento da Serasa Experian.
O efeito de um crise mundial, portanto, pode ser arrasador para muitos negócios.
Santa Marta, de Goiás, vítima da crise de 2008
Uma das empresas que recorreram à recuperação judicial foi a rede de farmácias Santa Marta, que possui 50 lojas na região de Goiânia (GO). Os assessores contratados para conduzir o processo de recuperação, o escritório de advocacia Felsberg e Associados e a empresa de consultoria da Galleazzi e Associados, só aguardam agora o sinal verde da Justiça para colocar à venda as lojas da rede farmácias.
As unidades serão oferecidas às grandes redes de drogarias, setor que passa por um acelerado processo de fusões e aquisições neste ano.
“Os problemas enfrentados pela Santa Marta ainda são reflexo da crise de 2008, quando os bancos cortaram o crédito. Essa restrição deixou as empresas que estavam mais endividadas em uma situação financeira delicada”, afirma Joel Luiz Thomaz Bastos, do Felsberg e Associados.
A Santa Marta, que já vinha tendo dificuldades para concorrer com as grandes cadeias de farmácias, ficou sem caixa para pagar suas dívidas, que totalizam hoje R$ 120 milhões.
A empresa passou a registrar quedas nas vendas devido ao avanço das grandes cadeias e ficou sem capital para continuar pagando fornecedores e credores. Suas lojas ficaram desabastecidas e perderam ainda mais clientes.
Os recursos levantados com a venda das unidades irão quitar as dívidas com funcionários, fornecedores e bancos. Os donos da Santa Marta receberão o que sobrar da venda dos ativos, se sobrar algum dinheiro.
"Não é hora de se endividar"
O mundo está diante de uma nova crise de confiança, o que deve ter impacto sobre a oferta de crédito. E o Brasil não estará imune. “Crédito depende de credibilidade”, afirma Carlos Henrique de Almeida, analista de economia da Serasa.
O governo brasileiro, por exemplo, será cobrado a cortar despesas. “Sem o ajuste fiscal, o Brasil não conseguirá promover uma redução mais significativa das taxas de juros”, diz Almeida. Apesar dos cortes recentes, os juros continuam e devem continuar caros em 2012. Sem ajustes nas contas do governo, novos cortes nas taxas poderiam levar a uma aceleração da inflação no Brasil, o que afetaria a confiança no País.
Esse é um momento para se tomar cuidado, sobretudo para as pequenas e médias empresas, avalia o economista da Serasa. “Não é a hora de se endividar”, aconselha.
As grandes empresas têm acesso a instrumentos financeiros que as pequenas não têm. Para elas, a contração de dívidas, seja para financiar a compra de mais mercadorias ou para expandir suas instalações, pode colocar a sobrevivência em risco.
Autores: Claudia Facchini
Fonte: http://economia.ig.com.br (20/09/2011)