Relatório, que avaliou 48 países, mostra aumento dos custos e desequilíbrio na cadeia de suprimentos levaram a um número maior de falências em 2022; Brasil aparece na contramão
06/09/2023
A guerra entre Rússia e a Ucrânia e fatores macroeconômicos, como pressão inflacionária e a subida dos juros nas maiores economias do mundo, levaram a um aumento no número de empresas que tiveram a falência decretada no ano passado, aponta um relatório da CIAL Dun & Bradstreet. Em 2022, o número de falências cresceu em cerca de 60% dos países monitorados.
O estudo, que avaliou 48 economias, mostra uma alta de 10% no número de falências em 2022, na comparação com o ano anterior. Indonésia, Áustria, França e Reino Unido foram os países que mais registraram a quebra de empresas no período. O relatório leva em consideração apenas falências decretadas pela justiça.
A pesquisa aponta que a crise inflacionária, deflagrada pelas interrupções na cadeia de suprimentos e as sanções à Rússia, após a invasão da Ucrânia, desencadearam um aumento expressivo nos preços para setores de energia, alimentos, metais e minerais, com subida nos preços das commodities. Diante da escalada, as empresas foram atingidas tanto no aumento do custo de insumos como na queda do consumo.
— A verdade é que uma discussão sobre juros pelos bancos centrais ou uma guerra distante na Europa Oriental impactam o dia a dia das empresas. Tudo isso gerou um desarranjo na cadeia de valores e no fluxo de caixa das empresas, com um crédito que também ficou mais apertado. Por isso, na maioria dos países, o ano de 2022 foi de aumento das taxas de falência — explica Marcos Maciel, CEO da CIAL Dun & Bradstreet no Brasil.
O relatório lembra ainda que a alta dos juros levou a uma restrição de crédito e capital, o que gerou efeitos negativos principalmente para empresas dos setores de tecnologia e varejo. "À medida que o desembolso de crédito e os padrões se tornam mais rigorosos, as empresas com um ciclo de caixa mais longo podem enfrentar desafios significativos na gestão do fluxo de caixa", destaca a pesquisa.
Brasil na contramão e tendências para 2023
O Brasil aparece na contramão da maioria dos países monitorados, com queda de 19% no número de falências em 2022 - a redução foi de 760, em 2021, para 614, no ano passado. O estudo destaca que os incentivos financeiros do governo no ano de eleição, a redução no valor do combustível e a ampliação de programas sociais foram fatores determinantes para os negócios brasileiros.
O retrato feito pela CIAL Dun & Bradstreet vai ao encontro de outros relatórios sobre falências no país. A Seresa Experian registrou o menor número de falências nos últimos três anos em 2022, com uma queda de 8,8% em relação ao ano anterior. Os pedidos de recuperação judicial caíram 6,5%.
Para 2023, o relatório da CIAL Dun & Bradstreet aponta que o nível de falências irá variar de acordo com sectores e países, mas com tendência de "um aumento generalizado de casos". A pesquisa cita a permanência do cenário inflacionário e o ritmo lento do desaperto monetário como fatores de risco.
"Os custos de financiamento mais elevados, juntamente com a baixa liquidez do mercado, poderão colocar desafios significativos na gestão do fluxo de caixa", aponta o estudo.
No Brasil, no primeiro semestre de 2023, foram registrados 546 pedidos de falência, segundo a Serasa Experian, um aumento de 36,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Já os pedidos de recuperação judicial cresceram 52% em relação ao primeiro semestre de 2022.