Custos inflados, projetos caros, pacotes gordos de remuneração e acordos trabalhistas generosos levaram a empresa ao prejuízo por cinco anos consecutivos. Longhi começou a cortar custos. Na semana passada, a U.S. Steel anunciou que estava cancelando cerca de US$ 800 milhões em projetos. E as operações canadenses da empresa entraram com pedido de recuperação judicial.
Uma reformulação ainda mais radical pode estar por vir.
"Tudo está na mesa", disse o executivo brasileiro ao The Wall Street Journal, em sua primeira longa entrevista desde que assumiu o cargo de diretor-presidente. Uma opção é usar a estratégia dos "minimills" - usinas semi-integradas -, onde o aço é feito a partir de sucata, com um custo menor do que a partir de minério de ferro e carvão. "O mundo muda e a U.S. Steel tem que se adaptar", disse Longhi.
A empresa, que foi fundada há 113 anos e, acredita-se, foi a primeira companhia dos Estados Unidos a registrar mais de US$ 1 bilhão em receita anual, enfrenta desafios severos, incluindo a concorrência com importados. E terá que negociar um novo acordo coletivo com o sindicato dos trabalhadores em 2015.
Longhi, um ex-executivo da Alcoa Inc. e ex-diretor-presidente da Gerdau SA, foi promovido do cargo de diretor operacional para comandar a reestruturação.
O conselho de administração "não estava feliz com cinco anos consecutivos de prejuízos", diz uma pessoa a par do assunto. "Ele está criando uma nova cultura centrada no retorno para o acionista, que nem sempre foi prioridade para a U.S.Steel, diz a fonte. Embora os membros do conselho da U.S. Steel acreditem no plano de reestruturação de Longhi, eles monitoram de perto sua execução, diz essa pessoa.
A cotação das ações da empresa mais que dobrou de valor desde que Longhi assumiu, principalmente porque os investidores estão animados com os cortes de custos. A empresa está eliminando US$ 435 milhões neste ano e informou que poderá fazer reduções similares nos próximos.
Dois ex-executivos da Caterpillar Inc. foram contratados por Longhi: Geoff Turk, como vice-presidente de transformação, e David Burritt, como diretor financeiro. A U.S. Steel citou a experiência deles em tornar uma firma industrial mais eficiente.
Sam Halpert, que administra os investimentos na U.S. Steel da gestora de recursos Van Eck Global, um dos dez maiores acionistas da siderúrgica, diz que a atitude da empresa está mudando sob o comando de Longhi.
A remuneração do diretor-presidente, por exemplo, era baseada em parte no volume de aço vendido. "Eles mudaram isso e agora Longhi é pago com base em toneladas lucrativas e outras métricas, assim fica confortável em enxugar a empresa para torná-la mais lucrativa", diz Halpert.
A U.S.Steel informou que, desde 2011, quando John Surma era diretor-presidente, as vendas representam 20% dos incentivos de remuneração e que as vendas continuam sendo um dos vários fatores de remuneração.
Outros expressam ceticismo sobre a estratégia da empresa. "É difícil acreditar no plano quando eles não dizem de fato o que estão fazendo", diz Andrew Lane, da Morningstar Inc.
Longhi defende a falta de detalhes dos seus planos. "Este é um mundo competitivo. Nós não vamos ser específicos sobre tudo que fazemos." Segundo ele, "o plano não é sobre um punhado de mudanças."
Nas usinas de Gary Works, em Indiana, os trabalhadores se queixaram que estavam desperdiçando até três polegadas de aço na remoção de impurezas, segundo a empresa e o sindicato. Com menos sucata, a rentabilidade sobe, diz Turk. Um engenheiro também descobriu que a empresa poderia produzir bobinas 1% mais finas em 84.000 toneladas por ano e ainda atender as exigências do cliente.
Uma das fábricas da U.S. Steel geralmente compraria rolamentos mais baratos, disse Longhi. "Hoje, talvez pagamos 30% a mais por outro tipo de rolamento, mas que dura duas vezes mais."
Ele também está pressionando por mudanças culturais. Alguns supervisores agora carregam três fichas no bolso para lembrá-los de questionar os empregados três vezes por dia, disse Longhi.
A U.S. Steel demitiu funcionários não sindicalizados e registrou US$ 14 milhões em indenizações no primeiro semestre. Ela não informou o número de demissões. Mas a empresa também está recontratando pessoas para funções anteriormente terceirizadas, como reparos mecânicos, economizando US$ 30 milhões este ano. "O objetivo não é ter sucesso demitindo", disse Longhi.
Tais estratégicas são bem-vindas pelos trabalhadores, diz Tom Conway, negociador do sindicato dos siderúrgicos. Segundo ele, algumas mudanças feitas por Longhi, como uma manutenção eficiente, "deveriam ter sido introduzidas há 20 anos".
A boa vontade do sindicato poderá desaparecer no ano que vem, quando a U.S. Stell terá que formatar um novo acordo trabalhista. Os benefícios estarão na mesa de negociações. No fim de 2013, os planos médicos e o seguro de vida de 136.000 aposentados tiveram um rombo de US$ 1,4 bilhão. Nos planos de pensão, o déficit foi de US$ 1,1 bilhão.
Entre os cortes mais comentados anunciados na semana passada estavam o cancelamento dos planos de expansão da produção de pellets de minério de ferro em Minnesota e a redução dos investimentos em Gary, Indiana, para produzir um substituto para o coque industrial, geralmente feito de carvão. O carvão e o minério de ferro são as matérias-primas básicas necessárias para se produzir aço nos altos-fornos tradicionais.
Analistas acreditam que os cortes sinalizam uma mudança em direção às usinas semi-integradas. A U.S. Steel já fez planos de substituir um alto-forno tradicional no Alabama com essas usinas. Os minimills "serão parte do portfólio", diz Longhi. "Será tudo? É muito cedo para dizer, mas estamos iniciando essa jornada."