O futuro da Oi nunca esteve tão incerto como agora, enquanto é aguardado o plano de recuperação judicial da tele, com pendências de R$ 65 bilhões. Mas as ações há anos não mostravam desempenho como dos últimos 40 dias. O valor de mercado da companhia passou de R$ 1 bilhão para R$ 2,4 bilhões, desde o pedido à Justiça.
A valorização, de 140%, tem explicação simples: a tele virou alvo de fundos oportunistas, interessados em surfar a onda da recuperação do negócio e, para os mais pacientes, da consolidação setorial.
O valor em bolsa, mesmo após a alta, equivale a 6% do que a Oi valia em fevereiro de 2014 - R$ 38 bilhões. Na época, estava às vésperas da combinação societária com a Portugal Telecom, numa complexa reestruturação que, além de nociva, sequer foi concluída.
A aposta de quem entra agora é que, após resolver a dívida, a Oi finalmente poderá partir para a consolidação ou atrair teles globais que estão fora do Brasil. Ainda que esse passo já tenha se provado tão difícil quanto óbvio.
A agitação em torno da Oi, contudo, ainda tem mais espuma do que força. Tudo que se tem notícia é grande lista de "advisers", intermediários financeiros, que estão em busca de um grande "cheque" para levar à tele. Querem, de alguma forma, imprimir sua marca e levar a tele até a consolidação.
São bancos de investimento nacionais e estrangeiros e reestruturadores que olham para a Oi e veem sinônimo de oportunidade.
Um dos grupos que mais barulho tem feito é o formado pela Íntegra, de Renato Franco. Ele trouxe ex-executivos do setor para preparar um plano operacional. O time crê que entrar na Oi demanda US$ 1,5 bilhão, "para cima".
Os passos de Ricardo Knoepfelmacher, conhecido como "K", também são acompanhados. O especialista em reestruturações presidiu a Brasil Telecom, como representante dos fundos de pensão que se opunham à Daniel Dantas.
E em meio a essa movimentação de assessores financeiros, o baixo valor da Oi em bolsa abriu espaço para empresários polêmicos como Nelson Tanure e fundos de evento.
Habituado a trabalhar com advogados experientes, Tanure fez fortuna movendo-se entre companhias com dificuldades financeiras e seus sócios. Como em 2000, quando recebeu R$ 150 milhões só para sair do banco Boavista e parar de dificultar a venda ao Bradesco. Não raro, os negócios são "desmontados" por ele, para venda em partes. Na Oi, chegou fazendo barulho. Quer trocar a administração antes da recuperação judicial.
Até agora, exceto a promessa do grupo de credores assessorado pela Moelis&Co, não há dinheiro novo à Oi nem grande investidor.
A Moelis&Co diz estar com um grupo detentor de cerca de US$ 4 bilhões em dívida da Oi, pulverizados entre mais de 70 investidores. Desse total, metade está nas mãos de 8 grandes gestores. Diante da corrida entre os assessores, tais fundos teriam se apressado em mandar sinais com disposição de colocar US$ 1 bilhão na transação.
O agito tem prazo. Todos estão em movimento porque ninguém ainda tem exclusividade de nada. "Por enquanto, ninguém é de ninguém", disse fonte ligada ao caso.
Embora existam fundos estudando a Oi, ainda é à distância. Entre os possíveis compradores, não estão teles globais. Na máximo, sócios chamados de "estratégicos" por serem carteiras ou fortunas dedicadas ao setor. Como era o LetterOne, do russo Mikhail Fridman, que considerou a tele, e o egípcio Naguib Sawiris, que vê potencial.
Mas ninguém planeja nada para antes da apresentação do plano de recuperação pela Oi. A base de negociação estará nele.
A Oi tem a rede residencial de telefonia do Brasil inteiro, exceto São Paulo. É a única no Brasil que não está nas mãos de um operador internacional. Tem 70 milhões de clientes em telefonia fixa, banda larga e celular. Em 2015, fez R$ 28,5 bilhões em receita líquida.
O desafio está longe de ser pequeno: 8,2 mil quilômetros quadrados de área atendida, 18% dela rural.
Mas a parte que faz crescer os olhos é que a Oi gerou R$ 7,4 bilhões de fluxo de caixa operacional em 2015 e a dívida levou R$ 4 bilhões pelo ralo em encargos financeiros. É a redução significativa dos juros, com uma reestruturação financeira, que faz brilhar os olhos. "Sabe quantas empresas tem à venda com Ebitda de R$ 7 bilhões?", questionou entusiasmado o gestor de fundo de infraestrutura assediado para parcerias.
Além disso, como a Oi há anos sofre com instabilidade na gestão, a percepção é que há eficiência a ser conquistada. E, para completar, a tele pode sair da recuperação judicial com uma legislação mais flexível e com R$ 10 bilhões para investir. São multas aplicadas pela Anatel depositadas em juízo e que a companhia pretende trocar por compromisso de investimento.
Mais uma vez, este parece ser o evento que pode colocar a Oi no caminho de seu futuro.
A estrutura societária da Oi de hoje ajuda a atrair interessados. Não tem dono. O maior acionista é a Pharol, antiga holding da Portugal Telecom, com 27,5% das ações ordinárias. Os antigos controladores Andrade Gutierrez e La Fonte foram embora, após deixarem para a Oi R$ 4,5 bilhões em dívida.
Dos débitos totais, de R$ 65 bilhões, cerca de R$ 32 bilhões são compromissos com papéis emitidos no mercado internacional. A expectativa é que parte importante deles seja convertida em ações.
É a certeza de que essa etapa é necessária que faz crescerem os olhos sobre a tele. "A Oi não pode se dar ao luxo de não fazer adequação profunda da estrutura de capital. Ela não poderá recorrer a outra recuperação judicial por dois anos. Em caso de aperto, será falência direto", apontou um especialista.
Mas falar em dinheiro para a Oi nem sempre significa caixa mais gordo. Na maioria das vezes, a oportunidade avaliada passa pela compra da dívida da tele, dentro da recuperação judicial.
"São poucos momentos e oportunidades - ou nenhum até agora - em que com US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão é possível comprar uma tele com o tamanho da Oi", ponderou fonte envolvida. Após a conversão da dívida em capital, o controle custará bem mais caro.
Como o grupo dos detentores da dívida internacional é heterogêneo, parte pode não querer converter os títulos em ações. Com isso, podem aceitar vender a um interessado em entrar na conversão em capital. "É possível oferecer liquidez aos insatisfeitos", comentou fonte que avalia o negócio.
Os analistas estão com dificuldade em formar opinião pois não conseguem mapear os grupos aliados. O cenário é nebuloso porque há dois núcleos de poder na Oi, que serão protagonistas em fases diferentes.
Na largada, a atual administração da Oi - sócios, conselheiros e executivos - decide pela tele. É preciso que o plano de recuperação seja submetido a esse conselho de administração antes de ser levado à Justiça.
Em seguida, são os credores os agentes principais. O sucesso do plano depende da aprovação deles, em assembleia. E, após a conversão da dívida, serão os novos acionistas e responsáveis pela Oi.
Os credores de hoje serão efetivamente os donos da tele amanhã.