Mais de um ano após entrar com pedido de recuperação judicial, a OAS começa a ajustar sua estratégia para se tornar uma empresa focada em construção pesada, num retorno às origens. O projeto, incluído no plano de negócios traçado em abril do ano passado, deve criar uma empresa com previsão de faturamento em 2016 de R$ 4,4 bilhões. Em entrevista ao Valor, o diretor financeiro do grupo, Josedir Barreto, contou que, diante de um mercado de infraestrutura doméstico andando de lado, um dos movimentos é ampliar a atuação no exterior.
Além de manter os negócios na América Latina, a empresa prevê a abertura de escritório no Marrocos, para comandar a operação na África. A expectativa, segundo o executivo, é ter uma empresa montada e estruturada no país no terceiro trimestre deste ano. A empreiteira já conta com projetos em Gana, Guiné Equatorial, Guiné Conacri e Angola.
A OAS elevou em cerca de 180% a projeção de receita no exterior em 2016, de R$ 680 milhões - em previsão feita no ano passado - para R$ 1,76 bilhão. Não houve alteração na previsão de faturamento total para o ano, apenas mudança na proporção de recursos no Brasil e mercado externo. "Tenho uma conta para pagar e, no momento em que percebemos que o Brasil ia passar por essa paralisia, decidimos redirecionar o foco."
Logo que iniciou o processo de recuperação, a empreiteira informou que seu objetivo seria ficar apenas na atividade de construção pesada. A intenção era sair de todos os negócios de concessões. "Existe uma empresa que tem vida, e conseguimos cumprir o plano até aqui. A operação da companhia está seguindo", disse o executivo. O executivo admite que o mercado brasileiro está ruim e reconhece que não há grandes obras de infraestrutura para atuar. "Vamos competir com empresas médias", diz e, para isso, conta que a OAS tem tomado medidas para melhorar produtividade, dentre elas a promoção de economia de orçamento.
No início de maio, a empresa teve de cumprir sua primeira obrigação de pagamento prevista no plano. Foram desembolsados R$ 20 milhões para credores fornecedores e financeiros.
O grande ponto agora, diz o diretor, é o julgamento. Barreto se refere à apreciação da 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que precisa dar parecer sobre 19 agravos de instrumento que foram interpostos contra a homologação do plano.
Uma das principais operações da recuperação judicial, a venda da Invepar, está apenas no aguardo da decisão da Justiça para se concretizar. Isso porque a transferência da participação de 24,4% da empreiteira na holding de infraestrutura está condicionada ao julgamento desses recursos. A expectativa é de que o assunto seja apreciado em 27 de junho. Resolvida essa questão, as ações da empreiteira passam para credores da OAS Investimentos. O lance automático dos credores considerado vencedor no leilão foi de R$ 1,35 bilhão, em créditos. Caso haja revenda do ativo, cerca de R$ 270 milhões devem entrar no caixa da OAS.
A negociação com credores permitiu reduzir a dívida e contingências de em torno de R$ 10 bilhões para R$ 3,5 bilhões, a serem quitados em até 25 anos, em diferentes formas e prazos de pagamentos. A negociação incluiu corte de 66% na dívida de detentores de bonds da OAS Investimentos - o mesmo grupo que receberá as ações da Invepar como parte do pagamento.
Enquanto isso, explica o executivo, a OAS continua atuando no mercado. Os últimos dados indicavam 66 projetos em carteira em março, com volume financeiro de R$ 10 bilhões. De acordo com a empresa, foram fechados cinco contratos e aditamentos no Brasil e exterior, no valor total de R$ 1,3 bilhão, desde o início da recuperação judicial. A OAS ainda informou que existem cerca de 40 projetos em sua carteira de oportunidade, os quais podem resultar em R$ 2,5 bilhões adicionais.
O plano da empresa, porém, prevê limite de endividamento de até R$ 400 milhões. A tomada de novas dívidas, segundo Barreto, está sendo considerada apenas nos casos em que apareça oportunidade que possa reforçar a operação da companhia e sua posição de caixa e que exija algum tipo de financiamento.
A OAS é uma das empresas investigadas pela Operação Lava-Jato. Com o agravamento da situação financeira, o grupo entrou com pedido de recuperação judicial em março de 2015. O esforço para manter-se operacionalmente saudável se dá ao mesmo tempo em que está sendo negociado acordo de leniência de um dos acionistas da OAS, Léo Pinheiro. Questionado sobre os impactos do possível acordo, o diretor financeiro disse que não faria nenhum comentário sobre o assunto.