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OAS prevê concluir recuperação em 2 meses e nega risco de falência

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O presidente da OAS, Josedir Barreto, afirma que os relatórios da administradora judicial não contemplam renegociações concluídas recentemente

O presidente da OAS, Josedir Barreto, nega que o grupo esteja à beira da falência, prevê o fim de sua recuperação judicial dentro de dois meses e diz que os relatórios que indicavam uma situação crítica da companhia não retratam a conjuntura atual da empresa.

Em entrevista ao Valor, o executivo tenta rebater o cenário apresentado pela administradora judicial de seu processo, a Alvarez & Marsal, em relatórios recentes divulgados pela "Folha de S. Paulo". Neles, é apontada a dificuldade da empresa para se reerguer e a dependência de recursos extraordinários para garantir sua liquidez.

A OAS, que já foi a segunda maior construtora do país, até ser atingida pela Lava Jato e pela crise econômica, entrou em recuperação judicial em abril de 2015, para renegociar dívidas de R$ 10,3 bilhões (a valor justo de mercado). Seu plano de reestruturação, aprovado apenas em 2016, promoveu um corte drástico dos débitos, que caíram para R$ 3,3 bilhões.

Segundo Barreto, os relatórios da administradora judicial não contemplam importantes renegociações de dívida que foram concluídas recentemente e outras, ainda em curso. "Não está errado, mas retrata a foto, e não o filme." A Alvarez & Marsal confirma que "o relatório de junho [o último divulgado] considera os eventos registrados no período de março e abril" e, portanto, não contempla eventos ocorridos desde então.

Em maio, o grupo finalizou o principal passo para concluir seu processo de recuperação: a transferência da participação acionária na Invepar, de 24,44%, para credores. A empresa, que detém concessões do aeroporto de Guarulhos e Metrô Rio, era o principal ativo do grupo. Em troca das ações, a OAS conseguiu um abatimento da dívida, que caiu para R$ 2,7 bilhões.

Além disso, uma segunda renegociação garantiu a quitação de, aproximadamente, outros R$ 2 bilhões, segundo o presidente. Portanto, o valor total dos débitos da OAS estaria hoje em R$ 780 milhões (a valor justo). A maior parte desse montante vence em 2041 e tem juros reduzidos, de 1% ao ano - o que indica uma maior tranquilidade para o caixa do grupo, diz Barreto.

O abatimento foi fruto de um acordo com credores internacionais: eles "devolveram" o equivalente a R$ 2 bilhões em dívidas e, em troca, ficaram com o direito de receber 20% da futura venda da Invepar, quando a operação for concretizada. Esse montante a receber, que foi uma das condições negociadas pela OAS para aceitar transferir as ações da empresa, é calculado em cerca de R$ 200 milhões.

"Propusemos uma troca: você me dá a dívida e te dou o direito de receber os 20%, que não estão disponíveis hoje [já que a venda não foi realizada], e que não acredito que estarão nos próximos 12 meses. Ninguém no mercado achava que aceitariam, mas conseguimos abater 95% do nosso endividamento lá fora", afirma Barreto.

Na prática, a empresa obteve um desconto de cerca de 90% em cima da parcela mais cara de sua dívida, que era em dólares e rendia a uma taxa de juros de 13%. "Foi um desconto do desconto", resume. Com as renegociações, a despesa anual do grupo com pagamento de juros caiu de R$ 153 milhões para R$ 13 milhões.

A OAS ainda não enviou os documentos comprovando a operação no exterior à Alvarez & Marsal, que só vai contemplar o abatimento com os certificados em mãos.

Barreto diz que isso não foi feito até agora porque os executivos estiveram ocupados com outras operações, como a transferência da Invepar, e porque a reestruturação do grupo chegou a um estágio final, em que não há um acompanhamento tão próximo. "Não comunico o dia a dia da empresa."

O presidente afirma que a OAS está próxima de encerrar sua recuperação judicial. Ainda faltam negociar questões pontuais, mas a expectativa é que a conclusão ocorra dentro de um prazo de cinco a oito semanas, estima.

O grupo está em dia com todos os pagamentos do processo. No entanto, isso não significa que a situação seja confortável. A parcela do plano referente a maio, por exemplo, foi quitada com recursos extraordinários e, até abril, não havia clareza de quando entrariam no caixa. O presidente, porém, diz ter garantido o pagamento de todas as parcelas deste ano.

Ele prevê que a geração de caixa operacional da companhia chegue a R$ 104 milhões em 2019. Como os resultados referentes a 2018 só serão publicados no fim de julho, não se sabe como foi o desempenho no ano passado.

Analistas de mercado que acompanham a OAS de perto têm uma visão bem menos otimista. Na visão de uma fonte, essa projeção dificilmente se concretizará. E, mesmo que chegue a esse patamar, a situação ainda seria grave: a relação entre dívida e geração de caixa seria superior a oito vezes - o mercado vê como saudável uma alavancagem de até três vezes.

Os analistas relembram que, além das dívidas da recuperação judicial, há débitos que não estão contemplados no processo. com fornecedores, por exemplo. O grupo calcula em cerca de R$ 100 milhões as dívidas extraconcursais (não incluídas na recuperação) e diz estar em fase inicial de renegociação com esses credores.

Por conta da falta de pagamentos a prestadores de serviços, a OAS acumula pedidos de falência na Justiça que, hoje, não podem ser julgados, mas que poderão ser analisados com o fim da recuperação. O Valor levantou ao menos dez ações do gênero abertas desde março.

A avaliação do presidente é que não é do interesse dessas empresas levar as ações à cabo - em um cenário de falência, fornecedores dificilmente receberiam. Seria uma forma de pressionar pelo recebimento? "Eu faria o mesmo", diz.

Um dos mecanismos que a companhia tem buscado para garantir sua liquidez e conseguir honrar compromissos é a venda de créditos a receber - decorrentes de ações judiciais, pleitos administrativos e arbitragens. No início deste ano, o primeiro leilão do gênero rendeu R$ 82,5 milhões, com vitória da Jive Asset Management - o valor de face era de R$ 400 milhões. O grupo já prepara novas concorrências. Ao todo, há R$ 2,6 bilhões em contas a receber, mas não necessariamente todas serão leiloadas.

Para analistas, a estratégia mostra a dependência de créditos extraordinários. Barreto nega e diz que o grupo conseguirá se reerguer apenas com sua operação. "Já foram firmados acordos com parceiros internacionais para concorrer em três ou quatro projetos de infraestrutura, como obras de metrô e pontes, por exemplo". Hoje, o grupo tem vinte obras em curso.

Questionado sobre a possibilidade de a OAS ir à falência, ele responde com convicção: "Não acredito na falência da OAS. O plano que estamos entregando vai na direção oposta. Queremos virar um 'case' de recuperação judicial bem sucedida."

 

18/07/2019

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