Grandes bancos brasileiros já estão se preparando para o cenário da empreiteira e principal empresa do conglomerado Odebrecht pedir recuperação judicial, segundo três fontes bancárias ouvidas pela Reuters nos últimos dias.
“Não tem jeito, agora é mera questão de tempo”, disse à Reuters um alto executivo de um dos maiores bancos do país. “Demoraram demais para reagir, agora ficou difícil.”
Atingida pelas investigações da operação Lava Jato no Brasil e pelos desdobramentos em mais de um dezena de países da América Latina, além da forte recessão no Brasil e revezes em mercados internacionais, como Venezuela, a Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) viu suas finanças se deteriorarem rapidamente nos últimos meses, após fracassos na tentativa de repor sua carteira de projetos e de vender ativos.
Na terça-feira, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou o nota de crédito atribuída à companhia, de CCC+ para CCC, mantendo a perspectiva negativa. O movimento vem cerca de dois meses antes do vencimento de uma parcela de 500 milhões de reais de um bônus com prazo em 25 de abril.
Um não pagamento da dívida pela OEC marcaria uma segunda grande reestruturação para o conglomerado brasileiro, cuja unidade de petróleo e gás pediu recuperação extra-judicial no ano passado para realizar um plano de renegociação 5 bilhões de dólares em títulos.
Segundo a S&P, o caixa da OEC caiu de 1,3 bilhão de dólares em dezembro de 2016 para 700 milhões de dólares em setembro passado. A agência estimou que o Ebitda da companhia ficará na faixa de 300 milhões a 350 milhões de dólares neste ano.
Além do pagamento de abril, a OEC ainda tem que pagar o equivalente a cerca de 200 milhões de dólares a credores ainda neste ano, segundo a S&P, sem contar outros 40 milhões de dólares relativos a acordos legais para encerrar investigações derivadas da Lava Jato.
Em geral, os bancos provisionam a exposição a empresas em recuperação judicial entre 30 a 50 por cento. Esse volume já tem sido reservado pelos bancos ao longo dos últimos anos, na esteira da Lava Jato, segundo fontes bancárias ouvidas pela Reuters.
Os volumes de provisões dos bancos aceleraram desde que a OEC fechou 2016 com queda de 68 por cento da receita líquida sobre o ano anterior, para 18,5 bilhões de reais e prejuízo de 2 bilhões de reais.
Além disso, a carteira de projetos recuou 41 por cento, principalmente pela paralisação de um gasoduto bilionário no Peru. Até o final de 2017, executivos do próprio grupo acreditavam numa saída negociada com credores após concluírem a venda de alguns ativos, como o projeto do gasoduto, o que não aconteceu.
Os bancos têm preferido não serem os primeiros a declarar a OEC inadimplente, dada a relevância da companhia para os projetos de infraestrutura do Brasil e as dezenas de milhares de pessoas empregadas nessas obras.
“Colocar a empresa como inadimplente tem implicações fortes; mexe com a posição junto aos credores e há um movimento antecipado para tudo. Estamos tratando com cuidado para não empurrar a empresa para o buraco, mas não significa que não vai se colocar como inadimplente”, disse uma fonte familiarizada com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O prêmio embutido nos títulos da companhia no mercado, porém, revelam a dimensão da desconfiança dos investidores. Segundo dados da Thomson Reuters, o bônus da companhia que tem pagamento de uma amortização em abril [BR092262383=] embutia rentabilidade de cerca de 111 por cento ao ano.
Uma fonte a par das negociações da empresa com credores afirmou que o conglomerado está negociando uma solução mais abrangente para o pagamento dos bônus de abril para dar fôlego ao grupo em 2018 e que uma solução deve ser fechada até o fim de março.
Enquanto ampliaram provisões, os bancos comerciais também passaram a exigir garantias de melhor qualidade para renovar linhas de crédito para a OEC e outras empresas do conglomerado, como ativos da holding, que divide o controle da petroquímica Braskem com a Petrobras.
Assim, mesmo que a OEC se torne inadimplente e, posteriormente, entre em recuperação judicial, as perdas líquidas para os bancos seriam bastante limitadas, afirmaram as fontes.
“Mas o tratamento contábil (para a dívida da empresa) é o dispensado a uma empresa já em recuperação”, disse uma segunda fonte, de outro banco grande comercial.
Procurada, a OEC afirmou em nota que “vem trabalhando na liquidez dos seus recebíveis e na liberação dos financiamentos já contratados para fazer face às suas obrigações”.
25/02/2018