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Odebrecht substitui presidente para dar novo rumo ao grupo

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Luciano Guidolin, 44 anos, engenheiro: experiência financeira para negociar com credores e reorganizar vários negócios

Uma decisão já esperada - e, talvez, um pouco atrasada -, a troca de comando no grupo Odebrecht, anunciada na sexta-feita, indica que é hora de adotar medidas mais efetivas para o controle da situação financeira da companhia, que está altamente endividada, com vários negócios ainda dependentes de reestruturação e com a reputação muita abalada em razão do envolvimento no escândalo da operação Lava-Jato.

A nomeação de Luciano Guidolin, 44 anos e 12 de empresa, para a presidência da Odebrecht S.A., holding que controla o grupo, significa colocar um executivo com experiência na área financeira para renegociar com os vários credores do grupo e implementar a reestruturação de negócios. Ele substitui Newton de Souza, alçado à presidência da companhia tão logo Marcelo Odebrecht - que comandava o grupo desde o início de 2009 - foi parar na prisão em Curitiba há 23 meses.

Guidolin, considerado menino prodígio, engenheiro pela Universidade de São Paulo e com pós-graduação em Harvard, era o que a Odebrecht tinha para o momento, observou uma fonte. Para um outra pessoa, com conhecimento da estrutura do conglomerado, os mais de 70 acordos de delação ao Ministério Público Federal (MPF) abateram em pleno voo os nomes de vários executivos que eram considerados aptos ao cargo.

Souza já tinha iniciado um processo de "desaceleração" na companhia, pois sempre ficou claro que sua passagem pela presidência seria temporária. Agora, vai para a vice-presidência do conselho da holding. "Ele é como o governo de Michel Temer, de transição", acrescenta a fonte.

Guidolin foi pinçado da controlada Braskem no fim do ano passado, onde era vice-presidente da principal área de negócios - resinas plásticas. No grupo começou como estagiário, e em alguns anos chegou ao posto de diretor, assumindo a diretoria financeira da Odebrecht Agroindustrial e foi vice-presidente de finanças da Odebrecht S.A. Para Emílio Odebrecht, em carta a funcionários, o executivo ampliou sua visão sobre todos negócios.

A avaliação é que sua chegada ao comando - depois de quatro meses e meio como vice-presidente de investimentos e controle de risco - vai levar à aceleração do plano de venda de ativos, bem como da reorganização dos negócios do grupo, duramente afetados com a Lava-Jato, principalmente a área de engenharia e construção. São apontados três grandes desafios imediatos: delicada situação financeira, reputação abalada das empresas e questões legais ainda pendentes no Brasil e em outros países onde a construtora admitiu ilegalidade.

Todas essas pendências podem ter precipitado a indicação de Guidolin à presidência da Odebrecht, diz outra fonte. Há entre alguns membros do grupo a percepção de que o acordo de leniência - R$ 3,8 bilhões, valor de hoje, sem considerar R$ 3,1 bilhões da Braskem - saiu caro demais comparado a outros acordos (Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez), assim como a pena de Marcelo Odebrecht, mais dura que a dos demais delatores.

Apesar de esperada, a nomeação causou certa surpresa, pois as transições na Odebrecht não costumam ocorrer nesse momento do ano. Uma fonte destacou que foi o momento ideal: o fantasma do risco da recuperação judicial se dissipou ao menos por ora com a entrada no caixa do dinheiro da venda da Odebrecht Ambiental para a canadense Brookfield.

São quase R$ 3 bilhões. No entanto, avalia-se que ganhou fôlego de caixa para ultrapassar este ano, mas dificilmente conseguiria sobreviver por mais dois anos, como tem dito a direção do grupo, sem medidas mais efetivas de reforço financeiro e celeridade no processo de venda de ativos.

Há um ano, a Odebrecht anunciou que colocou à venda um pacote de ativos que lhe renderia ao redor de R$ 12 bilhões, mas isso não se efetivou. Além da Ambiental, conseguiu se desfazer da Rutas de Limas, no Peru, e de pequenos negócios. Tudo somado não chega à metade da meta traçada.

Durante a gestão de Souza, foi assinado acordo de leniência com o MPF no Brasil - ainda não homologado - e com Justiça dos Estados Unidos, Suíça e República Dominicana. E iniciadas também negociações em outros países.

Na carta aos funcionários, Emílio classificou Guidolin como líder de uma nova geração e com "experiência e talento" para consolidar a Odebrecht como grupo empresarial "com higidez financeira, perspectiva de crescimento e reputação de empresa ética, íntegra e transparente." Disse ainda que Souza conduziu o conglomerado com "serenidade e firmeza" durante "os dois anos mais sensíveis da história da empresa".

A nomeação de Guidolin mostra ser um avanço na gestão, mas por se tratar de um nome da corporação ainda suscita dúvidas sobre mudanças mais profundas. Grandes credores da Odebrecht, há mais de um ano, já apontavam como salutar a contratação de um profissional do mercado.

Outro ponto importante: até quando Emílio ficará na presidência do conselho de administração da holding, onde está desde 1998. Ele negociou com o MPF um prazo de até dois anos, desde a homologação da sua delação e demais executivos, para fazer a reestruturação e nomear o substituto. Espera-se que, ao deixar o cargo, renove também o colegiado, na maioria composto por executivos que trabalham com ele desde os anos 80. E incorpore profissionais independentes. (Colaborou Renato Rostás)

Autor(a)
Fernanda Pires, Stella Fontes e Ivo Ribeiro

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