As negociações da Oi com seus credores financeiros passam necessariamente pela entrada de novos sócios no capital da companhia. A constatação - do diretor presidente da operadora, Marco Schroeder - é resultado do número limitado de opções para chegar a um acordo com os bondholders da Oi, que detêm R$ 36 bilhões em títulos da dívida corporativa.
"O que tenho para oferecer é: quanto vou pagar num novo título de dívida e quanto ele vai receber em ações. Não tem mais muito milagre", resumiu o executivo, em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, acrescentando que esta gama de soluções pode variar conforme a categoria de credores. De acordo com Schroeder, a empresa trabalha para aprovar ainda neste ano seu plano de recuperação judicial. O cronograma estabelecido pela Oi prevê a entrega do plano de recuperação num prazo de 60 dias corridos, a contar de 20 de junho.
Na sequência, a companhia tem prazo de 120 dias para aprovação da proposta por uma assembleia de credores. "O melhor prazo seria tentar concluir a aprovação até o fim do ano. Agora, se formos trabalhar com dias úteis, estamos falando do final do primeiro trimestre [de 2017]", disse, referindo-se ao prazo a que a tele tem direito para apresentar o plano (60 dias úteis). Schroeder admitiu que a meta de aprovação este ano pode ser prejudicada se houver muitas contestações de credores.
Anteontem, notícias veiculadas na mídia de Portugal indicavam a formação de um grupo de credores contrário ao plano. Assessorados pelo banco americano Houlihan Lokey, os credores detêm € 1,8 bilhão em títulos da dívida da Oi. Schroeder contou que ainda não teve contato com esse novo grupo, mas confirmou que as conversas com a Moelis - consultora financeira de um grupo que já reúne 38% do montante da dívida da Oi com bondholders - prosseguem. "A Moelis continua crescendo como grupo. Tive uma primeira rodada de negociações com eles depois da recuperação judicial, em Nova York", disse Schroeder. "Acho que a Moelis vai ficar meio que sozinha. Pelo tamanho que eles estão tendo, vai ser difícil criar um grupo paralelo."
A operadora está sendo questionada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre os motivos que a levaram a rejeitar um acordo com os detentores de bônus - a operadora abandonou a proposta negociada com bondholders antes de pedir recuperação judicial em 20 de junho. A CVM apura se membros do conselho de administração teriam atuado contra os interesses da operadora ao se opor à proposta. Schroeder nega que houvesse uma preocupação dos principais acionistas da companhia com a diluição de suas participações. De acordo ele, o acordo apresentado aos detentores dos títulos emitidos no exterior colocaria 70% da empresa nas mãos dos credores. Os 30% restantes ficariam com os atuais acionistas. A reação dos credores à proposta foi positiva. "Eles [os credores] voltaram dando condições de dívida melhores do que havíamos pedido. "[Mas os credores disseram] Só que não quero 70% da empresa, quero 95%."
Schroeder acredita que as partes chegariam a um acordo, num percentual menor que o pretendido pelos credores, mas o processo levaria tempo, já que seria necessária a adesão de 95% dos detentores de bônus. O debate em torno das duas opções - continuar a negociação com os credores ou pedir recuperação judicial - acabou resultando na saída do então presidente da Oi, Bayard Gontijo, no início de junho. "O mal-estar foi: continuamos com mais tempo tentando o caminho de uma negociação voluntária, ou imediatamente vamos para o caminho da recuperação judicial. Ele (Bayard) queria apostar um pouco mais no caminho da negociação voluntária", explicou Schroeder.
Para o executivo, o mercado brasileiro de telecomunicações passará necessariamente por um processo de consolidação, uma vez que ainda é muito "pulverizado". Uma vez equacionada a questão da dívida da companhia - hoje no patamar de R$ 65,4 bilhões - a empresa tende a atrair mais investidores, ponderou Schroeder. "Quem tiver interesse vai comprar as ações, como já tem gente comprando", acrescentou. Desde que a Oi deu entrada no pedido de recuperação judicial, o valor de suas ações ordinárias praticamente triplicou, impulsionado por compras de participações relevantes feitas por fundos de investimento.
Parte da movimentação está diretamente ligada à estratégia do empresário Nelson Tanure, que tenta articular com outros acionistas uma forma de assumir o comando da operadora. O apetite de Tanure e dos fundos americanos PointState Capital e Marathon Asset Management é encarado por Schroeder como um sinal positivo. "Foi só por causa da recuperação judicial? Só por causa da mudança do presidente? Não foi", afirmou. "Quem está comprando pode ser especulador, mas está comprando a ação porque acredita que tem alguma saída para o investimento dele". Apesar de todo esse interesse e da crença de que o mercado vai se consolidar, o executivo frisa que não há qualquer conversa com investidores e outras empresas sobre fusão ou venda da Oi.
Ontem, o juiz da 7ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Fernando Viana, deferiu o pedido formulado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) de estabelecer a aprovação prévia da própria agência para eventual transferência do controle societário da Oi e troca dos membros do conselho de administração da companhia. (Colaborou Rafael Rosas)