A Oi voltou a despertar atenção de investidores tradicionais de mercado. O avanço da recuperação judicial e a maior clareza a respeito das etapas do plano da companhia estão trazendo de volta à base de acionistas interessados nos fundamentos do negócio.
Já é possível estimar que os credores ficarão, após a troca das dívidas em bônus por ações, com pouco mais de 70% da Oi. Esse percentual poderá ficar ligeiramente acima de 80% após o aumento de capital para injeção de R$ 4 bilhões no caixa da empresa, a depender se os atuais acionistas comparecerão ou não à chamada de capital.
Quem é acionista hoje terá chance de ficar com 30% do que detém. A Pharol (ex-Portugal Telecom), por exemplo, que tem hoje 22,5% ficará com cerca de 6,5%.
Essas são as contas que estão fazendo a companhia retornar ao radar de grandes investidores. Além disso, a crença é que está mais próximo o momento em que a tele será alvo de uma aquisição setorial.
Medida do aumento de interesse é o aumento da negociação. Durante 2017, com a indefinição na recuperação judicial, eram negociadas por dia pouco menos de 2 milhões de ações ordinárias da Oi. Neste ano, essa média subiu para 6 milhões de ações, conforme levantamento do Valor Data.
A tradicional gestora carioca JGP foi uma das primeiras a montar posição após a homologação da recuperação judicial. Tem hoje 5,3% das ordinárias, equivalentes a 4,3% do capital total.
Para o aumento de capital de R$ 4 bilhões, cada nova ação da Oi - que fechou ontem cotada a R$ 4,21 - será colocada no mercado a R$ 1,10. Como se trata de uma colocação privada, só terá direito a comprar esses papéis quem já for acionista da empresa.
A diluição de 70% na troca de dívida é menor do que os 75% anunciados pela companhia - considerando que a totalidade dos detentores de bônus convertessem as dívidas em ações. Mas o índice é elevado e reflete o fato de diversos credores (que foram ativos na reestruturação) terem comprado títulos de dívida de fundos passivos de dívida, de investidores de varejo, já após a aprovação do plano.
Na bolsa, a Oi está avaliada hoje em R$ 3,5 bilhões. A expectativa é que o valor da companhia será "destravado" após as capitalizações. Pelo plano, a dívida de R$ 32 bilhões com títulos internacionais se transformará um débito de R$ 6,3 bilhões - pois a maior parte será trocada por ações.
O cronograma do plano estima que as duas capitalizações devem ser realizadas até julho deste ano. O balanço fechado de 2017 trará o efeito da reestruturação capturado em dezembro. Haverá, de um lado, o efeito positivo da capitalização do valor do corte na dívida e, do outro, o provisionamento para pendências com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Pelos cálculos de investidores, apenas a conversão da dívida deve fazer com que o valor de mercado da tele passe, pelo menos, a R$ 12 bilhões. E essa avaliação, aponta um especialista, ainda coloca a empresa com os múltiplos muito descontados diante do setor. A expectativa é que, mesmo após o reconhecimento dos compromissos com a Anatel, a dívida líquida da tele - que levou à recuperação judicial débitos de R$ 64 bilhões - terminará 2018 em R$ 15 bilhões.
Para a melhoria dos investimentos e da operação, o mercado espera que a Oi consiga cerca de R$ 10 bilhões com venda de ativos, incluindo imóveis.
Todo o cenário da tele fica ainda mais favorecido, apontam especialistas, pela reforma nas regras do setor, por meio do projeto de lei 79 que tramita no Congresso.
15/03/2018