Laticínios: Após crise, empresa recorreu à recuperação judicial, mas agora trabalha para expandir suas vendas
Criada há seis anos com foco na produção de queijos industriais, a goiana Ourolac viveu, como muitas empresas brasileiras em tempos recentes, momentos de grande otimismo seguidos por dificuldades financeiras.
No começo de 2008, o laticínio decidiu ampliar sua área de atuação e investiu R$ 40 milhões numa fábrica, no mesmo complexo industrial, em Ouroana, distrito de Rio Verde (GO), para produzir itens à base de lácteos destinados ao "food service".
No planejamento do laticínio goiano, a maior parte desse investimento - R$ 30 milhões - viria de um fundo de investimentos americano. No entanto, com a crise no fim de 2008, os recursos não vieram. "Tínhamos o compromisso de um fundo de investir R$ 30 milhões, mas não houve aporte", diz Geraldo Magela Camargo de Mello, diretor presidente da Ourolac.
Sem o aporte do fundo e num cenário de escassez de crédito por causa da crise internacional, a Ourolac ficou sem capital para pagar os investimentos e os fornecedores e teve de pedir recuperação judicial no fim de 2008.
Os credores da Ourolac aprovaram o plano em agosto deste ano e aceitaram um deságio de 60% nas dívidas sujeitas à recuperação judicial, que saíram de R$ 34,8 milhões para R$ 13,7 milhões. Pelo acordo, o saldo da dívida será pago no prazo médio de pagamento de 132 meses.
Para Mello, além da redução do endividamento, a recuperação judicial contribuiu para a melhoria na gestão administrativa e financeira da empresa e para a revisão das políticas de controles internos. Afora isso, a empresa conseguiu a formalização de um financiamento fiscal de aproximadamente R$ 400 milhões dentro do Programa Produzir, do governo goiano.
Depois do pedido de recuperação judicial, a Ourolac suspendeu a operação de queijos industriais, mas manteve a produção na nova unidade, que fabrica molhos e preparados para sorvetes, ambos à base de leite, em embalagens UHT flexíveis, para o food service.
De acordo com o diretor-presidente da Ourolac, o principal cliente da companhia atualmente é a rede de fast-food Bob"s. O laticínio goiano fornece à rede preparados para sorvete. Outro cliente importante é a KFC.
Passados os momentos mais difíceis, a Ourolac está preparada para voltar a crescer, diz Mello. De acordo com ele, a empresa já tem uma linha de crédito disponível para investimento.
O segmento de preparados para sorvete é a principal aposta da Ourolac diante do potencial de crescimento do consumo de sorvete no país. Mas a companhia também planeja adaptar a planta de queijos industriais, hoje parada. Esses queijos são fornecidos para outras empresas que os processam. O plano da Ourolac é adequar a planta para que possa vender o queijo já processado a partir do primeiro semestre de 2012.
Este ano, a empresa deve fechar com faturamento de R$ 50 milhões, mas a projeção é alcançar R$ 80 milhões a R$ 100 milhões em 2011 com novos contratos para a fornecimento, em negociação atualmente. Mello não divulga o nome dos clientes.
Apesar das dificuldades enfrentadas, o empresário afirma que o objetivo "é superar momento sem vender participação". Segundo ele, uma alternativa é buscar "sinergias com alguma outra empresa do setor".
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico (06/10/2010)