Com assembleia realizada na sexta-feira, empresa agora perdeu proteção contra pedidos de devolução de aviões
A gestora americana Elliott, detentora de 74% da dívida da Avianca, espera que o leilão dos ativos da companhia aérea levante US$ 230 milhões (R$ 890 milhões), segundo fontes envolvidas nas negociações. O valor é 65% maior que o fechado com a Latam e a Gol, que já se comprometeram a pagar, cada uma, US$ 70 milhões por um pacote que inclui aviões e autorizações de pousos e decolagens (slots) da empresa endividada.
Os ativos da Avianca serão divididos em sete UPIs (Unidades Produtivas Isoladas) – seis delas com slots e uma delas com o programa de fidelidade da companhia. A Latam e a Gol ficarão com uma dessas unidades cada uma, e o valor extra – US$ 90 milhões – que a Elliott pretende arrecadar deverá vir do leilão das outras UPIs.
Não há uma data definida para o leilão – há expectativas de que possa acontecer no fim do mês –, mas ainda é necessário que a Justiça homologue o plano de recuperação da companhia. Caso alguma das UPIs não seja arrematada no certame, será preciso a realização de uma nova assembleia de credores para se definir como será feita a venda do restante.
Dos R$ 2,7 bilhões da dívida da Avianca, R$ 2 bilhões são da Elliott. Caso o valor mínimo (US$ 140 milhões, ou R$ 540 milhões) seja levantado no leilão, a gestora deve receber cerca de 10% dos seus créditos, apurou o Estado. Os trabalhadores terão direito a até 650 salários mínimos, com um limite total de R$ 7 milhões.
Frota
Com a assembleia de credores realizada na última sexta-feira, a Avianca perdeu a proteção que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) havia concedido, impedido que as donas dos aviões alugados pela companhia pedissem a reintegração de posse. A medida era válida até que a assembleia acontecesse.
Segundo fontes próximas à empresa, não está descartada a hipótese de que a Avianca tenha de devolver aviões nos próximos dias. A companhia não conseguiu chegar a um acordo com as arrendadoras das aeronaves para devolvê-las de forma coordenada e, diante do entrave, teve de anunciar a redução de sua malha aérea.
Além do embate com as arrendadoras, o processo de recuperação judicial da Avianca foi conturbado por causa da disputa das companhias aéreas pelos ativos da empresa. Em março, a Azul anunciou que ficaria, por US$ 105 milhões, com a única UPI que seria formada contendo os slots e aviões. Havia uma pressão para que o negócio fosse concluído rapidamente, pois a Avianca está praticamente sem caixa. Para que ela continuasse operando, a Azul injetou US$ 13 milhões na empresa.
Na semana passada, no entanto, a Azul levou um revés: a Gol e a Latam fecharam diretamente com a Elliott um acordo para ficar com os ativos da Avianca. Foi aí que se decidiu fatiar a empresa em sete UPIs. Como Gol e Latam já têm uma participação de mercado elevado, se uma delas decidisse levar 100% da Avianca, a probabilidade de surgir um entrave no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) era elevada.
A briga gira em torno, principalmente, dos slots da Avianca no aeroporto de Congonhas. A Azul tem 5% de participação no terminal e essa presença reduzida é um dos limitadores para seu crescimento. Com a compra da Avianca, a empresa passaria a ter 13% dos slots de Congonhas – Latam e Gol têm mais de 40% cada uma.
08/04/2019