Tricolor diminui os descontos de até 92% para até 50% e promete pagamento da dívida de R$ 119,4 milhões em 10 anos. Paraná coloca sub-sede como garantia
07/06/2023
O Paraná Clube apresentou um novo plano dentro da recuperação judicial (RJ) para ter um planejamento de pagamento das dívidas. Após reclamação dos credores, o Tricolor oferecerá descontos e prazos menores e a sub-sede da Kennedy como garantia.
O clube protocolou as novas condições à 1ª Vara de Falências e Recuperação Judicial de Curitiba na segunda-feira. A proposta paranista aos 428 credores é de deságio de 11,5%, 38,5% e 49,8%.
Atualmente, o Paraná divide o débito de R$ 119,4 milhões na RJ em três grupos: 361 como trabalhista, 52 no quirografários e oito entre Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP).
- Trabalhista: R$ 59,5 milhões - 49,8% de desconto
- Quirografários: R$ 46 milhões - 38,58% de desconto
- ME e EPP: R$ 13,7 milhões - 11,5% de desconto
Os créditos até R$ 198 mil, por exemplo, seriam pagos em até um ano com 38,5% de desconto. O mesmo aconteceria com os credores acima deste valor, mas também receberiam R$ 181,8 mil no mesmo período. Ambos estão inclusos na Classe I.
Já a Classe III, dos quirografários, prevê um desconto de 49,8%, com pagamento de parcela única por 10 temporadas. A primeira parcela seria paga somente um ano e meio depois da aprovação e homologação da RJ em assembleia. A última classe, IV, tem o mesmo planejamento dos quirografários e envolve EPP e ME.
A assembleia para aprovação está marcada 12 de junho. Caso haja nova negativa, o próximo passo é a decretação da falência.
O administrador judicial é Maurício Obladen, o mesmo da RJ do Coritiba. Em contato com o ge, ele acredita que "com as mudanças, o cenário é de aprovação. Melhoraram muito as condições para os credores".
Outra grande mudança é a entrada da Kennedy como garantia de pagamento. Esse era o pedido de um grupo de credores, que cobrava uma solução com poder público para ceder o patrimônio em troca de cotas (potencial construtivo) para venda no mercado. O Athletico fez algo semelhante na construção da Arena da Baixada para a Copa do Mundo de 2014.
Por ser doado pelo município ao EC Água Verde, que depois virou Pinheiros, dois dos sete clubes de origem do Paraná, o imóvel não pode ser negociado. De acordo com a lei municipal nº 1550/1958, do então prefeito Ney Braga, o patrimônio não poderia ser vendido ou leiloado para pagamento de dívidas por ter fins de lazer e recreação esportiva.
A sede social até chegou a ir a leilão, mas não obteve nenhum lance nos dois preções de março de 2021. A 15ª Vara Federal de Curitiba determinou o leilão pela dívida de R$ 35 milhões com o Bacen (Banco Central do Brasil).
Quatro meses depois, a Justiça cancelou a terceira tentativa de leilão devido à aprovação da recuperação judicial, em julho de 2022. O cenário é parecido com a sub-sede do Boqueirão, que foi arrematada por R$ 9 milhões em 2018 e teve seu pregão cancelado no final de julho por também ter sido doado pela prefeitura ao Tricolor, o que o deixaria impenhorável.
Vale lembrar que parte da Kennedy é arrendada pelo Espaço Torres desde 2012 para eventos nos salões. A parcela única de R$ 1 milhão é válida até 2032.
De acordo com avaliações judiciais, a Kennedy tem o valor de R$ 88 milhões.
Na primeira assembleia, o clube tinha colocado descontos de 90% a 92% para pagar o débito de R$ 119,4 milhões em 16 anos. Com a negativa, o Paraná prometeu melhorar as condições para evitar a falência.
Na deliberação, o Paraná alegou que possui conversas com investidores para a venda da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e que uma negociação concretizada melhora a situação financeira. Já os credores cobraram as cartas de intenção dos supostos interessados para a assembleia de 12 de junho.
Dentro do processo, o Paraná citou que possui uma renda mensal de R$ 304 mil vinda de patrocinadores, bilheteria do estádio e o programa de sócio-torcedores, entre outros. A cúpula paranista alegou que "possui todas as condições e possibilidades de se reerguer (seja pela via recuperacional ou até por investidores)".
O cenário da época, entretanto, era diferente do atual. Em crise constante, o Tricolor foi rebaixado no Campeonato Paranaense do ano passado e não conquistou o acesso na Série D em 2022. Assim, o Tricolor não tem calendário nacional pela primeira vez na história a partir de 2023.
A única competição do time paranista é a Divisão de Acesso, que começou no final de abril. O clube ainda perdeu cinco perdas de mando por invasão da torcida na partida do rebaixamento, o que impede ganhos com bilheteria.
Por outro lado, o Paraná tem anunciado diversos patrocinadores para estampar na camisa - um deles uma casa de "entretenimento adulto", que gerou revolta de parte da torcida. Já o movimento "PRa cima, Praná" tem tentado vender cotas para torcedores, conselheiros e ex-dirigentes para arrecadar valores.
Em campo, o Tricolor é apenas o sétimo colocado na Segunda Divisão, com seis pontos em cinco jogos - quatro avançam para a semifinal e dois sobem. A diretoria acabou de demitir o técnico Marcão e contratou Fahel Júnior.
De acordo com o balanço financeiro de 2022, a dívida total do Tricolor é de R$ 156,3 milhões. O prejuízo no ano passado foi de R$ 823 mil.
Vale destacar que a recuperação judicial engloba as quantias trabalhistas e cíveis - o débito desses segmentos, por enquanto, é de R$ 92,7 milhões.
- Fiscal: R$ 8,9 milhões
- Trabalhista: R$ 37,5 milhões
- Cível: R$ 55 milhões
Vila Capanema, estádio do Paraná Clube — Foto: Igor Barrankievicz/Paraná