A PDG Realty assinou, ontem, a reestruturação de R$ 3,7 bilhões em dívidas com o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o Bradesco e o Itaú Unibanco, o correspondente a 60% da dívida bruta da companhia. A reestruturação levou sete meses, prazo em que a companhia conseguiu renegociar também, segundo o Valor apurou, cerca de R$ 1,2 bilhão com credores menores. No total, praticamente R$ 5 bilhões da dívida bruta da PDG - que era de R$ 6,155 bilhões no fim de 2015 - foram reestruturados.
O acordo com Banco do Brasil, Caixa, Bradesco e Itaú foi fechado em bloco e prevê alongamento do prazo de pagamento de dívidas corporativas e respectivos juros até meados de 2020. Com isso, a companhia ganha fôlego para não precisar vender imóveis no atacado a qualquer preço e, à medida que monetizar ativos, reduzir o endividamento e a parcela de juros a incorrer. As garantias foram oferecidas em conjunto aos bancos.
"A reestruturação cria uma janela para, eventualmente, voltarmos a pensar em futuro", afirma o presidente da PDG, Márcio Tabatchnik Trigueiro. O executivo ressaltou que a companhia conseguiu a colaboração dos bancos para mostrar que há alinhamento de interesses. De acordo com Trigueiro, as taxas de juros "foram mais generosas para o patamar de risco da companhia" do que seria possível obter no cenário atual.
Os termos do memorando não vinculante serão regidos por contratos definitivos, a serem concluídos em dois meses. Posteriormente, a PDG poderá negociar também a dação de ativos em pagamento de dívidas aos bancos.
Questionado se ainda há possibilidade de a companhia entrar em recuperação judicial, Trigueiro afirmou que esse risco foi "grandemente reduzido".
Segundo o presidente da PDG, o apoio da Vinci Partners - controladora da companhia - foi crucial para a reestruturação. A gestora de recursos não esteve na linha de frente das negociações - encabeçadas por Trigueiro e por Mauricio Teixeira, diretor financeiro e de relações com investidores da PDG -, mas contribuiu, de acordo com o presidente da incorporadora, com a reputação de ser acionista com capacidade financeira e por ter feito aumento de capital de R$ 500 milhões.
Além da reestruturação da dívida, os quatro bancos vão avaliar os projetos da incorporadora, com o objetivo de oferecer recursos suplementares para a conclusão de obras e capital de giro. Isso permitirá que a companhia retome as obras interrompidas, tenha recursos necessários para reembolsar clientes em caso de distratos e verbas para marketing, segundo o executivo.
"Os bancos também toparam financiar as despesas gerais e administrativas da holding", conta Trigueiro. As instituições também vão oferecer linhas de crédito para financiar essas despesas da holding, que terão vencimento em três anos. "A companhia terá uma vida mais normal", diz o presidente. A PDG continuará a focar atenções na geração de caixa e busca de redução de despesas gerais e administrativas. Segundo o executivo, a PDG não deixou de pagar salários dos funcionários, mas houve atrasos de pagamentos a fornecedores, de aluguéis e de despesas com tecnologia.
Dos maiores credores da PDG, o Banco Votorantim e o Santander não fizeram parte do acordo em bloco assinado ontem. Em janeiro, a PDG anunciou acordo não vinculante de venda de R$ 1,578 bilhão em ativos para o Banco Votorantim e a BV Empreendimentos e Participações (BVEP). "Ao longo do trimestre, teremos algumas operações ligadas a esse memorando", afirma.
Com o Santander, a PDG tem dívidas apenas de produção, ou seja, do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), e não havia necessidade de alongar os vencimentos por quatro anos, conforme Trigueiro. "Quase todos os projetos estão prontos, e o banco já coopera para financiamento de distratos e de obras", diz.
Ontem, a PDG anunciou também a venda de sua participação de 58% na REP Real Estate Partners Desenvolvimento Imobiliário para a LDI, que já detinha 38% da empresa de shopping centers. O Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, antecipou, em 16 de março, que a LDI estava na reta final de compra da REP.
A LDI - holding que possui a Lindencorp e a Construtora Adolpho Lindenberg - vai pagar cerca de R$ 34 milhões em imóveis pela participação da PDG na REP. Os recursos da venda desses imóveis serão utilizados para pagar um Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) que tinha imóveis da REP em garantia. A operação com a LDI permitirá a desconsolidação de cerca de R$ 237 milhões em dívidas da REP do balanço da PDG.
Um dos questionamentos do mercado em relação à PDG diz respeito à continuidade de suas operações como incorporadora depois que a situação financeira for equacionada. Segundo Trigueiro, após o equacionamento das dívidas, a companhia poderá "pensar em lançar novos projetos". "Não é inconcebível lançarmos algo no ano que vem, mas não estou dizendo que vamos fazer isso."
Autor(a)
Chiara Quintão