Do débito total de R$ 65,4 bilhões, R$ 50 bilhões referem-se a dívidas financeiras, o que atinge gestores, bancos e detentores de títulos
A crise na operadora Oi, que entrou com pedido de recuperação judicial na segunda-feira no Brasil e nesta terça-feira nos Estados Unidos, afetará as grandes instituições financeiras, que incluem bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa e BNDES) e privados, além de gestores, apontados como os maiores credores em lista fornecida pela tele à Justiça. O pedido de proteção terá impacto praticamente imediato no balanço dos grandes bancos brasileiros, que deverão elevar as despesas com provisões para devedores duvidosos.
No pedido de recuperação feito, a Oi indicou débitos totais de R$ 65,4 bilhões. Desse total, R$ 50 bilhões referem-se a dividas financeiras, o que atinge os bancos, gestores e debenturistas (detentores de títulos). O restante trata-se de contingenciamentos - somente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Oi deve R$ 10,07 bilhões e, débito aos fornecedores, mais R$ 1,5 bilhão.
Na noite desta terça, operadora conseguiu na Justiça a suspensão de todas ações e execuções contra a companhia pelo prazo de 180 dias. O objetivo é evitar que novas ações contra a companhia sejam ajuizadas até a aprovação da recuperação judicial.
Nesta terça, após forte oscilação na Bolsa, as ações ordinárias da tele recuaram 8,73% e, as preferenciais, 18,18%. Os papéis dos bancos também foram afetados. O Banco do Brasil é a instituição pública mais exposta e deverá ser a mais afetada, uma vez que possui débitos de R$ 4,4 bilhões. O BNDES, único com garantia real, tem exposição de R$ 3,3 bilhões. Já a Caixa tem R$ 1,96 bilhão pendurado (o banco teria retificado o valor para R$ 1,8 bilhão). Os papéis do BB fecharam com a maior queda do IBovespa, de 4,46%.
Entre os bancos privados estão o Itaú, com R$ 1,5 bilhão, e o BNP Paribas, com R$ 1,1 bilhão. Os papéis preferenciais do Itaú Unibanco e Itaúsa tiveram baixa de 0,03% e 0,96%, respectivamente. Já as ações do Bradesco fecharam em alta de 1,18% (PN) e 1,12% (ON). Santander Unit avançou 0,34%, após forte oscilação. Fontes ligadas ao Itaú e Bradesco afirmaram ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que já teriam provisionado esses valores.
Contaminação. Em relatório, analistas do Credit Suisse disseram que a crise da Oi trará implicações “muito negativas” para os bancos e também abrirá “precedente perigoso” para o setor corporativo. “Aumenta a probabilidade de que outras grandes empresas brasileiras altamente endividadas possam seguir o mesmo exemplo”, avaliaram Marcelo Telles, Lucas Lopes, Alonso Garcia e Victor Schabbel, que assim relatório.
Eles citam o caso da Sete Brasil, empresa criada para fornecer sondas para a Petrobrás, quando os bancos foram modestos em termos de provisões. Por isso, segundo eles, há “fortes razões” para acreditar que o colchão feito para possíveis perdas com a operadora de telefonia Oi também seja pequeno, de 10% no máximo.
Geralmente, os bancos provisionam 30% dos créditos de empresas que entram com pedido de recuperação judicial, segundo analistas do mercado. Cada instituição tem sua política de provisionamento específica.
A Oi está aguardando a aprovação do pedido de recuperação judicial, que terá de ser aprovado pelo juiz do Tribunal do Rio de Janeiro, para dar prosseguimento às reestruturações financeiras. “A companhia entrou com pedido de proteção antes de declarar default (calote), o que é positivo”, disse uma fonte próxima à companhia. A Oi não comenta o assunto.
Segundo uma fonte do governo, o pedido de recuperação judicial poderá dar fôlego ao caixa da operadora, que estava queimando cerca de R$ 7 bilhões em caixa somente para pagar os juros das dívidas.
Procurados, o BB e Itaú não comentaram. Bradesco, BNP Paribas, Santander e Caixa não retornaram os pedidos de entrevista. Em nota, o BNDES afirmou que “o provisionamento segue as normas internas, observando as normas determinadas pelo BC”.
Em entrevista à agência Bloomberg, o bilionário egípcio Naguib Sawiris, acionista da Orascom Telecom, reiteirou interesse na Oi. A informação já tinha sido antecipada na coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy. Para ele, a “Oi precisa de um acionista com uma sólida experiência em telecomunicações para resolver os seus problemas operacionais, além de suas dívidas financeiras”. O egípcio considerou se unir ao bilionário russo, Mikhail Fridman, que já negociava entrar na Oi, mas desistiu em fevereiro. /ALINE BRONZATTI, CYNTHIA DECLOEDT E MÔNICA SCARAMUZZO, DE SÃO PAULO; MARIANA SALLOWICZ, DO RIO, E ALTAMIRO JÚNIOR, DE NOVA YORK