logotipo TMA Brasil
logotipo TMA Brasil
lupa

Petroleiras dos EUA saem da crise e enfrentam Opep

Capa

Desde que assumiu como secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em 2016, Mohammad Barkindo, tenta criar laços de contato com a maior ameaça ao cartel de produtores da commodity: as pequenas e médias empresas americanas de petróleo de xisto, que se consolidaram como a nova força mais potente do setor petrolífero no século XXI.

"Elas têm uma história muito rica a contar: a forma como foram capazes de arquitetar esta revolução. Acho que deveriam ser saudadas por ter feito o que fizeram", disse Barkindo em conferência em Londres realizada em fevereiro. "Muitas delas, infelizmente, foram reduzidas a lápides."

A má notícia para a Opep é que muitas das empresas que tombaram se recusaram a ficar em seu túmulos. As concordatas de firmas americanas de exploração e produção dispararam depois que as cotações do petróleo começaram a cair há cerca de três anos, com 114 delas tendo entrado com pedido de recuperação judicial pelo Capítulo 11 da lei de falências americana em 2015 e 2016, segundo a banca de advocacia Haynes e Boone. Essas empresas, no entanto, como os monstros dos filmes de terror, vêm se mostrando extraordinariamente difíceis de matar.

Oito das dez maiores empresas do setor que recorreram ao Capítulo 11 saíram da concordata e ainda estão em operação, tendo conseguido se livrar de dívidas de bilhões de dólares.

"Em muitos aspectos somos as mesmas, mas em outros aspectos ficamos melhores", disse Michael Watford, executivo-chefe da Ultra Petroleum - que saiu do Capítulo 11 em abril - em teleconferência para analistas neste mês.

Em geral, essas sobreviventes viram-se obrigadas a cortar a produção, mas agora muitas planejam expandir-se. Em muitos casos, elas mantiveram suas equipes administrativas anteriores à recuperação judicial, valendo-se de incentivos financeiros generosos.

A tenacidade das empresas de petróleo de xisto é uma prova da leniência das leis de falência dos Estados Unidos e da exuberância dos mercados de capital. O financiamento das firmas americanas de exploração e produção de petróleo por meio de novos títulos de dívida diminuiu por algum tempo em 2016, mas desde então recuperou-se, enquanto o capital levantado por meio de emissão de ações chegou a um volume recorde em 2016.

Quando a Arábia Saudita, que na prática é a líder da Opep, decidiu permitir que os preços do petróleo caíssem no quarto trimestre de 2014 ao não restringir as cotas de produção, estava tentando deliberadamente empurrar para fora do mercado as empresas de custo de produção mais alto, como as firmas de petróleo de xisto dos EUA. A Opep esperava que esses produtores ficassem altamente endividados e, assim, perdessem o acesso a capital.

A onda de recuperações judiciais tornou o segmento mais forte, ao eliminar grandes encargos com dívidas

As empresas americanas de petróleo de xisto, contudo, conseguiram cortar custos e aumentar a produtividade assombrosamente. Seus prejuízos, embora substanciais, não foram grandes o suficiente para afugentar investidores. A onda de recuperações judiciais tornou o segmento mais forte, ao eliminar grandes encargos com dívidas e ao levar produtores a transferir ativos para empresas com mais capital para investir.

A SandRidge Energy, de Oklahoma, por exemplo, entrou com pedido de concordata em maio de 2016, pior momento da atividade no segmento. Saiu do Capítulo 11 em outubro, com a eliminação de US$ 3,7 bilhões de dívidas, e voltou a ter ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York. Na semana passada, divulgou lucro líquido de US$ 51 milhões no primeiro trimestre de 2017, em comparação ao prejuízo de US$ 324 milhões contabilizado no mesmo período do ano anterior. Nos últimos 12 meses, reduziu os custos de produção por barril em cerca de 27% e deixou de precisar pagar juros sobre suas dívidas, algo que no primeiro trimestre de 2016 havia lhe custado US$ 81 milhões.

A produção de petróleo caiu, mas o executivo-chefe da SandRidge, James Bennett, disse a analistas na semana passada que esperava vê-la começar a aumentar no segundo semestre deste ano. A empresa contou com apenas uma plataforma em operação na maior parte do primeiro trimestre, mas adicionou uma segunda no fim do período e prevê mais uma em meados deste ano.

Outra empresa que ganhou uma segunda vida foi a Halcon Resources, que em julho de 2016, assim como a SandRidge, entrou com um tipo de recuperação extrajudicial conhecida nos EUA como "pré-configurada", e saiu da concordata em setembro. A Halcon também conseguiu recuperar a lucratividade: saiu de um prejuízo líquido de US$ 567 milhões da empresa antecessora no primeiro trimestre de 2016, para um lucro de US$ 189 milhões do grupo sucessor no primeiro trimestre deste ano.

A Halcon, da mesma forma, pretende expandir-se. Recentemente, a empresa colocou em operação uma segunda plataforma na Bacia de Willinston, na Dakota do Norte, e anunciou em janeiro que vai investir cerca de US$ 840 milhões para comprar ativos na região permiana do Texas, atualmente o lugar mais disputado da expansão do petróleo de xisto nos EUA.

As empresas que saem de concordatas deverão enfrentar mais pressões para crescer rapidamente, já que sofreram uma mudança na composição de seus investidores, segundo Charles Beckam, da Haynes e Boone. Muitos fizeram operações de troca de dívidas por ações, o que significa que os detentores de bônus se tornaram acionistas.

"Os novos donos não vão ser nem de perto tão pacientes com a administração quanto os antigos acionistas foram", diz Beckam. "Eles vão querer que o desempenho se recupere rapidamente."

Nem toda empresa que sai da recuperação judicial tem a mesma determinação em expandir-se. A Samson Resources, que entrou no Capítulo 11 em setembro de 2015, vendeu muitos de seus ativos antes de emergir como Samson Resources II em março. Na semana passada, divulgou que também planeja vender seus direitos de perfuração no leste do Texas e na Lousiana. Essas transações, porém, vão fortalecer o setor, já que as reservas de petróleo e gás vão acabar parando nas mãos de empresas com a força financeira para explorá-las melhor.

Nas últimas semanas, a Opep já deve ter ficado incomodada com o alto nível dos estoques mundiais de petróleo, que continuam teimosamente elevados. Como se fossem uma aparição, as produtoras de petróleo de xisto estão de volta à cena e se tornaram mais um motivo de nervosismo para o cartel e todos os outros que produzem petróleo.

 

21/05/2017

Autor(a)
Ed Croocks

Newsletter

Tags

# (1)
#CPR (1)
Agro (2)
Case (2)
Coesa (1)
crise (2)
CVC (1)
EUA (1)
Fiagro (1)
Light (7)
MEI (1)
OAS (1)
Outros (27)
Paper (2)
STJ (2)
TJ-SP (1)
TMA (1)
Varejo (2)
Chat on WhatsApp