A Capital Consultoria, administradora judicial responsável pelo processo de recuperação da fabricante de eletrodomésticos Mabe, apresentou à Justiça um plano para retomar a fabricação de geladeiras e fogões das marcas Continental e Dako. Paralisada desde o fim de 2015, a produção foi encerrada de vez após ser decretada a falência da Mabe, na semana passada.
O Valor apurou que a Capital pretende usar um artigo previsto na lei de falências para retomar as atividades. O chamado plano de continuidade prevê a criação de uma subsidiária integral da massa falida, que assumiria as fábricas em Campinas e Hortolândia (SP) e ficaria responsável pela venda dos produtos. A ideia é aproveitar a relevância que as marcas Continental e Dako ainda têm no mercado - cerca de 8% de participação somadas - e recuperar o negócio para uma possível venda da operação em até dois anos. Procurada, a Capital disse que não poderia comentar o assunto.
A criação da subsidiária e a continuidade do processo dependem de alguns fatores. O primeiro deles é a liberação pela Justiça. O pedido precisa ser avaliado por um juiz, o que pode demorar um pouco por conta da recente mudança de juízes na comarca de Hortolândia.
Mesmo que seja aprovado, o plano pode não ser efetivado. Para continuar, será necessário recuperar recursos de depósitos judiciais para recompor o caixa e permitir os investimentos.
Caso o plano não obtenha aprovação, ou não seja executado, existe a possibilidade de vender os ativos remanescentes. Entre os possíveis interessados estariam a sueca Electrolux e as chinesas Haier e TCL. Na avaliação feita durante o processo de recuperação judicial da Mabe, em 2013, cada fábrica teve valor estimado em R$ 250 milhões - mas os ativos foram depreciados desde então.
O plano de continuidade da Capital não prevê a participação da Mabe como acionista da companhia. Um dos objetivos do processo, inclusive, é criar uma nova marca para a subsidiária que for criada. Um dos nomes aventados é Continental Eletrodomésticos.
Procurada, a mexicana Mabe, que chegou ao Brasil em 2003 por meio de aquisições, disse que não poderia se pronunciar sobre o assunto por não ser mais a controladora do negócio no Brasil. De acordo com a companhia, a participação foi vendida em março de 2013. A empresa não informou a quem.
Segundo pessoas próximas à operação brasileira, diversos sistemas usados internamente ainda eram de responsabilidade dos mexicanos. As marcas Continental e Dako também aparecem em algumas áreas do site da companhia.
A Mabe pediu recuperação judicial em maio de 2013 e teve o processo aprovado em janeiro de 2014. O plano previa a renegociação de R$ 300 milhões a R$ 400 milhões em débitos. No fim de 2015, a companhia deixou de honrar compromissos e paralisou as operações. A produção estava prevista para ser retomada em janeiro, mas isso não ocorreu. Antes do Carnaval, a Capital Consultoria entrou com pedido de falência da fabricante, aceito na semana passada. Com a decisão, 1,5 mil pessoas foram demitidas. Outra 341 haviam sido dispensadas em janeiro.
Sem caixa, a companhia não conseguiu pagar as rescisões trabalhistas, o que causou revolta entre ex-funcionários. Na segunda-feira, centenas de pessoas ocuparam as fábricas em protesto. Em nota, a Capital informou que, ontem, se reuniu com representantes do sindicato dos trabalhadores. Um novo encontro está previsto para amanhã, em Hortolândia.