Fábrica de Hortolândia estava ocupada havia um mês e 18 dias; funcionários reivindicam salário
Trabalhadores da Mabe, dona da marca de fogões Dako e de geladeiras Continental, em Hortolândia (SP), foram retirados pela Polícia Militar de dentro da empresa no domingo, após um mês e 18 dias de ocupação. A invasão ocorreu em 15 de fevereiro, após a Justiça ter decretado falência da empresa e os quase 2 mil trabalhadores, incluindo o pessoal da unidade de Campinas, ambas no interior de São Paulo, terem sido demitidos.
Com salários atrasados desde dezembro e sem receber rescisões, um grupo permaneceu dentro das duas fábricas. A de Campinas continua ocupada, mas a empresa responsável pela massa falida, a Capital Administradora Judicial, aguarda decisão da Justiça para também desocupar essa unidade.
Policiais retiram trabalhadores que estavam acampados há mais de um mêsA liminar pedindo a desocupação da filial de Hortolândia foi expedida em 18 de março. No início da tarde de domingo, um forte efetivo policial, com vários carros e um helicóptero entrou na fábrica e retirou cerca de 12 pessoas que estavam no local. “Como era domingo, muitos trabalhadores tinham ido para casa visitar os familiares e havia menos gente acampada”, diz o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região, José Everaldo Batista de Freitas, que estava no local durante a ação da polícia.
“Policiais que estavam no helicóptero desceram por uma corda no meio da fábrica e outros, fortemente armados, vieram pelos fundos e pela frente; não houve qualquer reação”, diz Freitas, que é funcionário da unidade de Hortolândia desde sua inauguração, em 1997.
Quando os trabalhadores já estavam do lado de fora da fábrica houve um tumulto e a polícia os dispersou com gás de pimenta. “Foi muita truculência”, diz o presidente do sindicato, Sidalino Orsi Júnior.
Parte dos trabalhadores segue acampada, agora em frente aos portões da fábrica, que está cercada por seguranças particulares contratados pela Capital.
A administradora da massa falida informa que haverá audiência na segunda-feira, no Ministério Público do Trabalho, em Campinas, entre a empresa e o sindicato para discutir questões que envolvem falência, direitos e deveres de cada parte.
A Capital já havia apresentado à Justiça um plano de continuidade para os ativos da massa falida, mas alega que terá de revisar o processo em razão do tempo em que a empresa ficou ocupada.
O grupo mexicano Mabe deve R$ 19,2 milhões para credores, R$ 4,5 milhões para fornecedores e R$ 19,1 milhões em encargos trabalhistas. A Capital pretendia inicialmente retomar a produção com cerca de 550 funcionários nas duas fábricas para tentar fazer caixa.
O sindicato, contudo, quer a volta de todos os funcionários – muitos deles com estabilidade, pois são portadores de doenças profissionais. Também reivindica o pagamento integral das rescisões para quem quiser deixar a empresa. “Tem gente com mais de 20 anos de trabalho; como vai sair sem receber os direitos?”, afirma Freitas.