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Procurador da Lava-Jato defende fim do sigilo em delações da Odebrecht

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-  Um dos principais porta-vozes da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba, o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima fez crítica contundente à classe política brasileira, que classificou como corrupta.

Carlos Fernando defendeu que a delação premiada dos 77 executivos da Odebrecht seja tornada pública. Segundo ele, a medida seria necessária para evitar que políticos manobrassem para mudar leis por temerem consequências por crimes relatados no acordo da empresa.

"Talvez o sistema político esteja reagindo porque não sabe o que uma empreiteira disse no acordo de colaboração. Talvez seja melhor mesmo levantar o sigilo para resolver esse problema. Pode não ser o ideal, em termos de investigação. Talvez políticos estejam reagindo sem saber o que tem na delação. Pode ser que estejam sendo pressionados por outros políticos, que temem terem sido delatados", disse.

O procurador defendeu uma mobilização da sociedade para retomar o movimento das 10 Medidas Anticorrupção, mas desta vez com foco na promoção de uma ampla reforma política.

"O sistema tende a um equilíbrio negativo. E não bastam mais as 10 Medidas. Nós temos um sistema político corrompido, que se financia por meio da corrupção. Não é apenas mudar o sistema penal. Precisamos mudar a forma como se financia a política no Brasil. Temos de trabalhar a corrupção como um fenômeno social que transcende a questão penal. Precisamos de leis que funcionem, não leis moralmente boas. Não é plenamente moral fazer um acordo com um criminoso e premiá-lo, entretanto, é eficaz e funciona", afirmou, durante palestra realizada na Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo.

Segundo Carlos Fernando, o sistema de financiamento político do país "é criminógeno". "Hoje estamos cativos, somos presos. Estamos acostumados à nossa cela. E o sistema político é o vampiro que nos mantém suficientemente satisfeitos e nos suga diariamente. Cada tributo que você paga e é desviado reflete o custo da corrupção e da violência. Veja o que está havendo no Espírito Santo. Lá é Brasil, não é o Afeganistão, não é um país distante. Pode acontecer aqui em São Paulo, no Paraná, em qualquer lugar".

Indústria cativa

O procurador afirmou também que a classe política atua, inclusive na economia, para manter a sociedade "cativa" de seu sistema corrupto. "A nossa indústria é cativa e fica presa a discursos nacionalistas que nos impedem de competir no exterior. Porque é mais fácil nos manter numa cela cativa, vítimas desse vampirismo que é a corrupção. É assim que a força-tarefa vê como as coisas realmente funcionam. Levei 38 anos para descobrir. Precisamos ter a percepção de que é preciso mudar", afirmou.

O procurador disse ainda que a sociedade não pode mais tolerar ser feita de refém da corrupção e da violência que, na avaliação dele, estão diretamente relacionadas. "Este país não pode mais ser refém. Temos de acabar com o crime organizado. Na política, na sociedade. Precisamos fazer mais. Eu preciso fazer mais. É preciso ir além".

Autor(a)
André Guilherme Vieira | Valor

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