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Queda do petróleo atinge setor de xisto americano

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A nova realidade dos preços do petróleo fez a Continental Resources tomar medidas drásticas para 2015. Maior produtora de petróleo de xisto da reserva americana de Bakken, em Dakota do Norte e Montana, de novembro para cá a companhia já reduziu duas vezes os investimentos a serem realizados neste ano, a mais recente em 41%, de US$ 4,6 bilhões para US$ 2,7 bilhões. A Continental também tem se dedicado a cortar custos com serviços, esperando baixá-los em pelo menos 15% até meados do ano.

"Nós respondemos à queda dos preços do petróleo com rapidez e agressividade", diz o vice-presidente de pesquisa da empresa, Warren Henry. O número de plataformas de perfuração caiu de 51 no ao ano passado para as atuais 36, e deve diminuir para 31 até o fim de março, conta ele. A companhia também tem adiado a entrada em operação de alguns poços já perfurados, outro passo para ajustar a produção ao ambiente de petróleo barato. Com receitas de US$ 4,8 bilhões em 2014 e com boa liquidez, a Continental teve reafirmado o seu grau de investimento (tem nota BBB-) pela Standard & Poor's (S&P) em janeiro.

Algumas pequenas companhias, no entanto, vivem uma situação bem diferente, devido ao elevado nível de endividamento e à dificuldade de conseguir novos recursos. As empresas texanas WBH Energy Partners e Royalty Partners, por exemplo, entraram com pedidos de recuperação judicial neste ano. Com dívidas de US$ 30 milhões e ativos de US$ 10 milhões, a WBH caminha para a concordata depois que a Castlelake, uma empresa que investe em dívidas, se recusou a adiantar mais dinheiro.

Empresas fazem cortes drásticos de gastos de capital para se adaptar à nova realidade das cotações

Com o rápido avanço das técnicas da fratura hidráulica e da perfuração horizontal nos últimos anos, surgiram muitas companhias para explorar as enormes reservas de petróleo e gás de xisto nos EUA. A produção americana aumentou muito, reduzindo significativamente as importações de energia do país. Desde meados do ano passado, contudo, as cotações do petróleo caíram mais de 50%, o que complicou o cenário para várias empresas americanas.

Para enfrentar esse quadro adverso, o setor tem focado na expressiva redução dos gastos de capital, como a realizada pela Continental, diz Chad Mabry, analista de energia e recursos naturais do banco de investimento MLV. Segundo ele, a média dos cortes nessas despesas no segmento de exploração e produção de petróleo está na casa de 30%, atingindo 50% nas pequenas e médias companhias.

Além de afetar as empresas endividadas e com dificuldades para obter empréstimos, essa estratégia tem provocado demissões, especialmente nas companhias que prestam serviços às petroleiras, como na perfuração de poços. No mês passado, a Halliburton informou que vai demitir pelo menos 5.000 trabalhadores, enquanto a Schlumberger vai mandar embora outros 9.000. Henry diz que a Continental não tem dispensado funcionários, porque terceiriza atividades como a perfuração.

Ao diminuir despesas de capital, as empresas estão tentando preservar a liquidez, diz Thomas Watters, diretor-executivo da área de ratings corporativos da S&P. "Com o petróleo na casa de US$ 50 o barril, poucas companhias farão dinheiro para financiar os esforços de perfuração. Elas podem cobrir os custos de caixa, mas na hora de reinvestir, ou seja, de gastar dinheiro para perfurar novos poços, as condições econômicas não existem com o barril a US$ 50."

Nesse quadro, começa a haver alguma preocupação com a liquidez das companhias de rating mais baixo, segundo ele. A boa notícia é que mesmo muitas das companhias com nota de crédito na categoria B (um grau especulativo) estão protegidas por meio de operações de hedge neste ano, e têm um cronograma favorável de dívidas. "A maior parte delas não tem vencimentos no curto prazo", diz ele, observando que elas haviam emitido títulos antes de o mercado virar, vendendo papéis mais longos.

Se os preços do petróleo não se recuperarem, porém, a situação pode ficar mais delicada. Petrolíferas com nota de crédito mais baixa podem ter problemas de liquidez em 2016, na visão de Watters. As operações de proteção contra as oscilações de preços vencerão e será mais difícil conseguir empréstimos. "Nós podemos começar a ver alguns calotes no ano que vem", afirma ele, lembrando que a QuickSilver Resources, do Texas, já deixou de fazer um pagamento. No mês passado, a companhia não pagou juros de US$ 13,6 milhões de papéis que vencem em 2019.

Apesar dessas dificuldades, Mabry acredita que a maior parte das empresas vai sobreviver a esse momento difícil. Um ponto importante é que a reação das petrolíferas ao mergulho das cotações do petróleo foi bastante drástica, reduzindo despesas de capital e diminuindo o número de novas perfurações. Com isso, o ajuste do lado da oferta tende a ser mais rápido do que se esperava há um ou dois meses, produzindo um impacto sobre os preços, afirma Mabry.

Henry também considera que a resposta das companhias americanas terá um efeito importante sobre a produção, maior do que o estimado pelos analistas. Nesse cenário, o excesso de oferta desapareceria em seis a nove meses, avalia ele. As cotações do petróleo então subiriam. Henry não espera que os preços voltem para a casa de US$ 100 o barril, mas tampouco acredita que vão permanecer na casa de US$ 50 - a tendência das cotações seria ficar no meio do caminho.

Os preços do petróleo que tornam viável o setor nos EUA variam muito de lugar para lugar, mas, dados os ajustes realizados pelas empresas nos últimos meses, tudo indica que o valor é mais baixo do que em meados do ano passado. Henry lembra que a Continental dizia antes que a "taxa aceitável de retorno" na reserva de Bakken estava na casa de US$ 55 a US$ 60 o barril. Ao concentrar a produção em poços mais rentáveis e cortar os custos, o numero está "bastante abaixo disso", segundo ele. Dois terços da produção da Continental vêm da reserva de Bakken, outros 20% do centro-sul de Oklahoma e o resto de outros lugares.

Ao tentar se adaptar rapidamente à redução dos preços do petróleo, a indústria do xisto nos EUA deverá continuar a ter um papel importante nos próximos anos, embora várias empresas tenderão a ficar pelo caminho, apostam analistas como Mabry. Empresas maiores podem aproveitar o momento para comprar ativos das que estão em dificuldades, e há espaço para eventuais fusões e aquisições. São movimentos que tendem a ajudar na consolidação do segmento, responsável pela ascensão dos EUA como potência energética nos últimos anos.

Autor(a)
Sergio Lamucci

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