Abreu: “Precisamos colocar as usinas dentro do nosso padrão de operação”
A aquisição de duas usinas da Tonon pela Raízen Energia reforça a liderança da companhia na produção de açúcar e etanol do país, mas demandará aportes adicionais - além dos R$ 823 milhões desembolsados para fechar o negócio - para que o potencial das unidades entre nos padrões da companhia.
João Alberto Abreu, diretor de operações da Raízen Energia, disse, em entrevista ao Valor, que o montante a ser investido não está definido, já que a negociação ainda está sujeita ao julgamento da juíza da recuperação judicial da Tonon e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O aporte pode variar dependendo do momento do ano, que pode ou não ser favorável ao plantio de cana, afirmou Abreu. "Assim que ocorrer o fechamento [da operação] no Cade, vamos atualizar o guidance". A meta atual da Raízen para a safra 2017/18 é um investimento entre R$ 2,1 bilhões e R$ 2,4 bilhões.
O primeiro passo assim que a Raízen assumir as usinas Santa Cândida, localizada em Bocaina (SP) e Paraíso, em Brotas (SP), será integrá-las ao "Pentágono", a central de monitoramento que acompanha todos os processos nas 24 usinas da companhia, desde o plantio e a colheita de cana até a indústria.
Por estarem próximas a dois polos com outras unidades, deve haver sinergias na área logística, com facilidade de direcionamento de biomassa entre as usinas da região, e na gestão. Com 5 milhões de toneladas de capacidade instalada nas duas usinas adquiridas, a capacidade de moagem da Raízen subirá 7%, para 73 milhões de toneladas anuais.
Outro investimento na lista de prioridades da Raízen é no tratamento e renovação dos 60 mil hectares de canaviais das duas unidades, que estão com idade média entre 3,5 anos e 4 anos. A idade média das lavouras da Raízen é de 3,3 anos. Mas, segundo Abreu, metade da área adquirida já está "em condições bastante favoráveis". Também deve haver desembolsos para a manutenção preventiva e troca de máquinas agrícolas.
Segundo Abreu, a Raízen também manterá contrato com todos os fornecedores que tinham compromissos com a Tonon. Cerca dos 20% dos contratos que estão sem renovação serão retomados pela companhia. Os fornecedores respondem hoje por 40% da cana processada pelas duas unidades.
As duas usinas têm um perfil levemente mais alcooleiro que a média das plantas da Raízen, mas uma mudança nesse perfil ainda não está no horizonte. As duas unidades têm 57% de seu potencial voltados à produção de etanol.
Ponto central da negociação com Tonon e credores, as operações de cogeração de energia a partir de bagaço que são contíguas às duas unidades - pertencentes à Rhodia e Brookfield - serão geridas pela Raízen. As duas empresas de energia exigiam a entrega do bagaço que a Tonon deixara de fornecer. Na negociação, ficou acertado que a Raízen entregará energia elétrica a ambas, dentro de um cronograma que prevê aumentos sucessivos, conforme a perspectiva de aumento de moagem de cana e ante os potenciais instalados.
A Brookfield, que detém a unidade de cogeração junto à Santa Cândida com 32 megawatt (MW) de potência, tem um contrato no mercado regulado até 2040. Já a Rhodia, que tem a unidade de cogeração junto à Usina Paraíso com 70 MW de potência, atua no mercado livre, ficando exposta à variação de preços.