Sem saída, muitas usinas do setor sucroalcooleiro recorreram à recuperação judicial para evitar a falência. Para analistas ouvidos pelo Valor, essa medida nem sempre se mostra a mais eficiente, uma vez que as linhas de crédito ficam ainda mais restritas para essas usinas.
O grupo João Lyra, de Alagoas, teve seu plano de recuperação judicial aprovado em junho e agora promove um amplo processo de reestruturação, afirma Arnoldo Wald Filho, advogado que acompanha o caso da usina, do escritório Wald & Associados. Com dívidas declaradas de R$ 815 milhões e receita de cerca de R$ 610 milhões (safra 2006/07), o grupo alagoano construiu duas usinas no Triângulo Mineiro, que viraram alvo de cobiça no mercado. Uma delas chegou a ser negociada para a trading Alcotra, uma das credoras da usina. Mas o negócio não foi levado adiante porque outro credor barrou a aquisição. "O grupo não pretende se desfazer de seus ativos", diz Wald.
Outras duas usinas entraram com pedido de recuperação judicial no Nordeste: Bom Jesus, da família Pragana, e Una, controlada por três sócios, ambas em Pernambuco. As empresas ainda aguardam as assembleias de credores, marcadas para outubro, para saber o veredicto em relação ao plano apresentado. Tanto a Una quanto a Bom Jesus relatam em seus processos que começaram a enfrentar problemas quando os bancos passaram a se negar a fornecer crédito para capital de giro, a partir da crise financeira mundial no ano passado. "Se antes elas tinham problema financeiro por estarem muito endividadas, os baixos preços das commodities fizeram com que a própria operação gerasse prejuízo, agravando a situação", diz Angelo Guerra Neto, sócio da Exame Auditores, empresa paulista responsável pela elaboração do plano de recuperação das duas usinas. Stélio Maia, diretor-financeiro da Bom Jesus, prefere simplificar os motivos: "A causa toda do problema foi que os bancos se retraíram de repente, e aí não tivemos outra opção a não ser entrar com o pedido de recuperação judicial".
A Una, que faturou R$ 135 milhões em 2007/08, deve R$ 150 milhões a seus credores. Os maiores deles são os bancos Indusval e o Cruzeiro do Sul, com cerca de R$ 15 milhões cada um. Já a Bom Jesus, com receita anual de R$ 55 milhões, tem credores com R$ 62 milhões a cobrar. Alvorada Agropecuária e Setta Combustíveis acumulam as maiores somas individuais a receber. Por enquanto, o alívio que elas obtiveram na Justiça foi barrar a apropriação dos estoques. Vendendo os produtos, os usineiros se capitalizam para a próxima safra. Essas usinas buscam agora promover reestruturações administrativas, tornarem-se S.As., elevarem a produtividade e venderem o açúcar diretamente no varejo, com marcas próprias. Segundo o Valor apurou, em breve outras duas usinas também vão buscar proteção dos credores na Justiça. (CM e MS).
Autor: Do Recife e São Paulo
Fonte: Valor econômico (20/07/2009)