Investigado na Operação Lava-Jato por suspeita de corrupção e de integrar um suposto cartel de empresas na Petrobras, o Grupo Schahin está muito próximo de fechar acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do Ministério da Justiça, apurou o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. Um dos acionistas do grupo, Fernando Schahin, está negociando um acordo de delação premiada.
O MPF tem interesse na colaboração premiada de Fernando Schahin, descrito pelo ex-gerente da Petrobras e delator Eduardo Musa como a pessoa da empresa com quem o "assunto de propina era tratado exclusivamente". Os investigadores querem que Schahin explique transações da empresa colocadas sob suspeita pela investigação.
O grupo Schahin está em recuperação judicial e a falta de caixa vinha emperrando as negociações sobre os acordos de leniência e de colaboração premiada. O entrave maior se dava sobre o valor acordado para o pagamento da multa cível a título de ressarcimento pelos prejuízos causados à petrolífera, afirmam fontes que acompanham o andamento do caso.
O objetivo do grupo empresarial é chegar a um acordo similar àquele conquistado pela Camargo Corrêa, também alvo da Lava-Jato. A empreiteira pagou R$ 700 milhões em seu processo de leniência e dois de seus então principais executivos, o presidente Dalton Avancini e o vice-presidente Eduardo Leite, tornaram-se delatores em troca de prisão domiciliar e do abrandamento de suas penas.
Diferentes escritórios de advocacia foram responsáveis pelos acordos assinados pela Camargo Corrêa. A mesma estratégia foi adotada pela Schahin.
A reportagem não conseguiu contato com o advogado do grupo Schahin, Guilherme San Juan, até o fechamento desta edição.
Entre os assuntos que o empresário Fernando Schahin estaria disposto a esclarecer, caso confirmada sua delação, estão o pagamento de uma suposta dívida de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 no valor de R$ 60 milhões - que o PT afirma nunca ter existido - e que teve como contrapartida a entrega, sem licitação, da operação da sonda Vitoria 10000 para a Schahin.
Outro tema é o empréstimo de R$ 12 milhões do banco Schahin ao pecuarista José Carlos Bumlai, em 2004, que teria contado com o publicitário Marcos Valério, preso e condenado por lavagem de dinheiro no mensalão. Existem suspeitas de irregularidades em contrato de mútuo (empréstimo) de R$ 6 milhões firmado no mesmo ano entre a S2 Participações Ltda., de Valério, a Remar Agenciamento e Assessoria e a Expresso Nova Santo André, do empresário Ronan Maria Pinto. É o primeiro documento a vincular Valério, operador do escândalo do mensalão, a personagens investigados pela Operação Lava-Jato.
O contrato foi apreendido pela PF em março de 2014 com Meire Pozza, contadora do doleiro e delator Alberto Youssef. Em um de seus termos de delação, Youssef diz que o contrato de mútuo ficou sob a guarda de Meire a pedido de Enivaldo Quadrado, processado no mensalão e na Lava-Jato.
O doleiro disse que o contrato foi feito por Quadrado a pedido de Breno Altman, "pessoa ligada ao Partido dos Trabalhadores". Segundo Youssef, o PT estaria sendo chantageado por conta do caso Celso Daniel, e "a documentação foi preparada para atender a determinada pessoa, que seria o proprietário de uma empresa de ônibus". O doleiro não soube explicar qual seria a chantagem, mas disse que "objetivava que tal pessoa 'ficasse quieta' em relação ao Caso Celso Daniel", afirmou.
Então prefeito de Santo André e coordenador da campanha presidencial de Lula, Daniel foi assassinado em 18 de janeiro de 2002. A Polícia Civil paulista concluiu que o homicídio foi um latrocínio (roubo seguido de morte) comum, sem qualquer vinculação à suposta rede de corrupção envolvendo as concessões de transporte coletivo na cidade. Em 2012, Valério tentou obter benefícios de delação premiada relatando a história da suposta intermediação envolvendo Ronan Maria Pinto, José Carlos Bumlai e o grupo Schahin, mas sem apresentar fatos que comprovassem a veracidade da história, segundo o MPF.
A PF está aprofundando a investigação sobre oito offshores que seriam usadas pela Schahin para pagamento de vantagens indevidas no exterior, segundo disse Musa.
A expectativa, no entanto, é que a investigação envolvendo contratos da Schahin com a Petrobras avance para 2016. Faltam ainda concluir perícias e laudos sobre materiais apreendidos em operações de busca e apreensão, além de documentos entregues por colaboradores.
A PF já intimou os advogados da Schahin a dar informações sobre a relação mantida pela empreiteira com as offshores sob investigação. Elas constam do pedido de recuperação judicial apresentado pela Schahin em abril deste ano.