Companhia aérea regional também sofreu um declínio de 30% a 40% em suas reservas desde 26 de fevereiro
A Virgin Atlantic se recusou a injetar mais dinheiro na Flybe, depois de uma queda acentuada nas reservas dos próprios voos causada pelo coronavírus, uma decisão que levou ao colapso a problemática companhia aérea regional.
Em um depoimento ao qual o “Financial Times” teve acesso, o CEO da Flybe, Mark Anderson, disse que a empresa de transporte aéreo britânica foi informada na noite de terça-feira que a Virgin Atlantic - um de seus acionistas - não disponibilizaria mais recursos.
Ele disse que a decisão foi motivada pelo impacto causado pelo coronavírus nas reservas de voos da Virgin Atlantic, que estão 50% abaixo do que eram há um ano.
O depoimento destacou que a Stobart, que possuía 30% da Flybe por meio do consórcio conhecido como Connect Airways, já indicara que também não estava disposta a oferecer recursos.
A declaração de Anderson foi protocolada nos tribunais de falências do Reino Unido na noite de quarta-feira, horas antes de a Flybe entrar com pedido de administração judicial, às 3 horas.
A Flybe entrou em falência com cerca de 5,7 milhões de libras em dinheiro disponível, mas tinha que pagar mais de 10 milhões de libras a credores até 6 de março. A companhia aérea regional também sofreu um declínio de 30% a 40% em suas reservas desde 26 de fevereiro, depois que a Covid-19 se propagou para a Itália.
Sua falência afeta cerca de 2,4 mil empregos e eleva incertezas sobre o futuro de muitas rotas regionais no Reino Unido.
O depoimento de Anderson, divulgado primeiro pela Sky News, revelou que a Cyrus Capital, o terceiro membro do consórcio Connect, que detinha 40% da Flybe, tentou encontrar uma maneira de manter a empresa em operação, com a compra mais participação, por meio de uma liquidação anterior à designação de um administrador judicial.
Mas essa ideia foi descartada depois que a agência reguladora de aviação do Reino Unido informou que o fundo de hedge teria que esperar várias semanas por um certificado de operador aéreo. Às 17h30 da quarta-feira, a Cyrus decidiu que não estava disposta a fornecer mais recursos sozinha.
O depoimento ajudou a explicar a relutância cada vez maior do governo britânico em apoiar a Flybe. Anderson disse que entre 12 e 14 de janeiro, quando a Flybe estava à beira da falência, o governo cogitou mudar o imposto pago por passageiros dos transportes aéreos, alteração que possivelmente integraria o orçamento de março. Um pacote de resgate também poderia incluir um empréstimo de até 100 milhões de libras.
Mas depois de uma análise da Alvarez & Marsal e de objeções das concorrentes - entre elas a IAG, proprietária da British Airways, e a Ryanair - de que um empréstimo poderia constituir um auxílio estatal ilegal, o governo voltou atrás.
A Connect Airways detém uma dívida garantida de pelo menos 20 milhões de libras e estará entre os primeiros credores a ser reembolsados pelo administrador do processo de liquidação. Os três acionistas se comprometeram a dar mais US$ 80 milhões à Flybe, mas ainda não está claro quanto desse valor já fora utilizado quando a empresa entrou em falência.
Um fonte próxima da Flybe disse que quando a empresa foi adquirida pela Connect, “estava com tantos problemas financeiros que já tinha vendido ou empenhado tudo o que podia”.
É improvável que a Flybe tenha ativos significativos para vender em sua liquidação. A maioria de seus ‘slots’ (horários de pouso e decolagem) no aeroporto de Heathrow, em Londres - que costumam ser lucrativas - devem ser devolvidas ao proprietário anterior, a IAG, em vez de ser vendidas.
Os registros de empresas do Reino Unido mostram que a Flybe recebeu um empréstimo de seus três acionistas em fevereiro de 2019, que exigia como garantia ativos como edifícios e equipamentos. Muitos de seus aviões já tinham sido hipotecados em rodadas anteriores de financiamento de fornecedores de crédito especializados. Existem 338 encargos pendentes desses credores com a Flybe.
Após o anúncio da falência da Flybe, um porta-voz da Virgin Atlantic disse: “Infelizmente, apesar dos esforços de todos os envolvidos para reverter a situação da empresa aérea, principalmente do pessoal da Flybe, o impacto do Covid-19 na operação significa que o consórcio não pode mais se comprometer com um auxílio financeiro continuado.”
06/03/2020