O executivo Shakhaf Wine assumiu no mês passado a presidência da Contax, em meio a desentendimentos entre acionistas da empresa sobre os rumos da operadora de call center, apurou o Valor. Ele foi indicado pela controladora CTX Participações, que reúne Andrade Gutierrez (AG) e Jereissati Participações. A primeira medida de Wine foi iniciar a venda da Allus, divisão internacional da Contax que, agora, quer focar suas operações no Brasil. Essa escolha estratégica é um dos pontos que geraram discordâncias entre os acionistas da Contax, apurou o Valor.
Wine conhece bastante a Contax. Foi conselheiro de administração da empresa entre 2011 e 2014. E o fato de o executivo ter sido, entre 2005 e 2015, diretor-presidente da Portugal Telecom (PT) Brasil, foi destacado nos questionamentos feitos pela gestora Polo à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre fatos referentes à fusão de Oi e PT. A Polo destaca a indicação de Wine por integrantes do bloco de controle da Oi, o cargo na tele portuguesa no Brasil, além de ter sido membro do comitê executivo da PT desde 2009. Segundo a Polo, "necessariamente [ Wine] deveria conhecer e aprovar as transações financeiras da PT com o Grupo Espírito Santo. Portanto, uma figura central diretamente envolvida no caso do rombo histórico de que foi vítima a Oi, agora está sendo 'presenteada' com o cargo executivo mais importante de outra empresa controlada por controladores da Oi", diz o texto da reclamação da Polo à CVM. Wine não está entre os executivos processados após investigações de Oi e PT sobre a aplicação na Rioforte.
A CTX afirma que Wine foi escolhido pela sua competência profissional e meritocracia e a aprovação seguiu todo o trâmite de governança da Contax. E ressalta que o pleito da Polo já foi afastado pela CVM. A Contax diz que Wine foi aprovado por unanimidade pelo conselho, ciente que o executivo tem forte experiência no setor, já foi conselheiro da empresa e presidente do conselho da Dedic/Mobitel. E esclarece que a Polo não é acionista da Contax. Wine não deu entrevista. Ele também foi, de 2011 a 2015, conselheiro da Oi.
Wine presidiu a Portugal Telecom no Brasil - na Contax, ele tenta reduzir a dívida de R$ 1 bi com a venda da Allus
A Contax é controlada pela CTX, com 22,73% do capital total. Outros acionistas relevantes são fundos das gestoras Verde (22%) e Skopos (15,38%). Com essa posições, os minoritários tinham duas vagas no conselho. Mas cinco dias antes da nomeação de Wine, em 19 de agosto, o conselheiro Pedro Cerize e seu suplente, Marcelo Cerize, ambos sócios da Skopos, renunciaram aos postos. Em 2 setembro, Marco Armelin, indicado pelos minoritários e que presidia o conselho da Contax, também renunciou. Mas neste caso a suplente Marina Braga Prado, que já foi da Skopos, ficou em seu lugar.
De acordo com informações de mercado, Cerize discordava da estratégia de vendas dos ativos na empresa no exterior, hoje o negócio mais redondo da Contax e que responde por 27% de suas receitas. Mas a saída do gestor do conselho da companhia se deve a meses de negociações para a venda do controle da empresa. Procurado, Cerize não deu entrevista.
Desde o ano passado há rumores sobre a venda da Contax. Sem conseguir encontrar um comprador, assessores financeiros sentaram com os fundos que têm fatias relevantes na companhia e propuseram que eles se juntassem para comprar o controle. Essa negociação não foi adiante por falta de acordo em relação ao preço e pelos desdobramentos, para a Andrade Gutierrez, da Operação Lava-Jato, que prejudicaram as conversas. Os sócios também discordaram sobre uma operação para antecipar a ida da Contax ao Novo Mercado.
Todos os acionistas concordavam que a Contax sofria com problemas de falhas de gestão e buscavam um novo presidente. A escolha de Wine se deu após a renúncia ao conselho feita por Cerize, que nunca rejeitou o executivo, de acordo com fontes.
A Contax vive um momento delicado. Suas receitas sofrem por conta da crise brasileira e em particular dos problemas da Oi, sua maior cliente. Com endividamento da ordem de R$ 1 bilhão, a venda da Allus pode solucionar este problema. Analistas do Bradesco estimaram em R$ 750 milhões o valor da Allus, que tem operações na Argentina, Peru e Colômbia. A venda do negócio, apesar de muito bem avaliado, representaria solucionar o endividamento da empresa. Dessa forma, a Contax ficaria em condições de focar a operação Brasil para melhorar a eficiência e diversificar a carteira de clientes. Wine, inclusive, já contratou duas consultorias, a Galeazzi, para cuidar de processos; e a K2, especializada no segmento da Contax. A única outra opção da Contax, na avaliação de algumas fontes, seria um aumento de capital.
O Valor apurou que já há pelo menos quatro interessados na compra da Allus. Seu fundador José Romero, que havia se desligado por conta de divergências com o presidente anterior da Contax, voltou a comandar a operação. A venda da Allus depende da aprovação de debenturistas em assembleia marcada para 23 de outubro. O contrato dos papéis tem restrições à venda de ativos. A Contax aproveitou reunião de debenturistas para discutir também a flexibilização de algumas das obrigações financeiras que assumiu.
Desde a chegada de Wine, os papéis da Contax sobem 38%. Ontem fecharam a R$ 3,15, mas ainda não recuperavam o patamar de antes da renúncia de Cerize, de R$ 3,28. Após a saída do conselheiro, os papéis da Contax caíram 28% em um par de pregões.