Sócio é contra fatiar negócios da Oi
A chegada do Société Mondiale, fundo do polêmico empresário Nelson Tanure, ao conselho de administração da Oi deve dividir o colegiado, formado por 11 membros. O Valor apurou que a intenção é apresentar ao conselho, dentro de até sessenta dias, uma atualização do plano de recuperação judicial registrado pela operadora. Uma atualização que, na prática, pretende ser uma mudança completa das diretrizes que orientam o modelo que a tele levou à 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro.
O acordo selado na semana passada entre a portuguesa Pharol, cujo veículo de investimento é a Bratel, e Tanure não contém nenhuma obrigação de voto conjunto. Por isso, a visão de futuro desses acionistas pode continuar divergente, mas agora dentro do conselho, numa disputa por votos.
A Pharol tem cinco assentos no conselho de administração e o fundo Société Mondiale, dois - ocupados desde o dia 13 pelo ex-ministro das Comunicações Hélio Costa e pelo ex-presidente do BNDES Demian Fiocca.
Para fazer valer sua vontade, Tanure, que aos conhecidos se auto-classifica como "arrojado", terá de convencer pelo menos mais quatro participantes do conselho.
O BNDES ocupa atualmente duas vagas e há dois membros que são herança de indicações feitas pelos ex-controladores Andrade Gutierrez e Grupo Jereissati (La Fonte). Otimista, o empresário carioca tem dito, a pessoas envolvidas no investimento, acreditar que até mesmo a Pharol será favorável ao seu projeto.
Por conta do ingresso do Société Mondiale no conselho de administração da Oi, já há quem garanta que um plano definitivo de venda da operação móvel não passaria no colegiado.
O projeto levado pela Oi à Justiça reflete, principalmente, a visão e os interesses da Pharol na companhia. A acionista quer fatiar a tele, e, com isso, evitar a diluição de sua participação com uma conversão de dívida em capital, e vender o controle do que restar.
O Valor apurou que Tanure discorda frontalmente do plano levado pela Oi, em especial, sobre o fatiamento da companhia. O empresário alega, aos sócios na tele, que seu projeto é de resgate da Oi. O discurso adotado é que a companhia precisa, antes de tudo, decidir o que quer ser no futuro. O plano, diz ele aos acionistas internacionais que tem visitado, é o caminho pelo qual a empresa deve chegar ao futuro planejado, e não uma mera peça para diminuir a dívida. O prazo que ele diz aos acionistas ser necessário é de cerca de cinco anos.
Apesar do passado de episódios controversos, como no caso do Banco Boavista, a fala de Tanure tem surtido efeito sobre acionistas relevantes da Oi.
A inspiração de futuro para a tele brasileira, que era para ter sido a campeã nacional de telefonia pelos planos do BNDES, e que agora tem seduzido alguns investidores, é nada menos do que a americana Verizon, que em 2015 teve receita líquida superior a US$ 130 bilhões e que integra redes fixa, de fibra, e móvel, além de plataformas de serviços de rede.
Tanure tem dito aos interlocutores que, para sobreviver no longo prazo, a Oi precisa de inovação, além de uma rede integrada.
Por enquanto, o empresário tem evitado falar sobre o tratamento e a estratégia para lidar com os credores - ponto crucial já que, depois do conselho de administração, são eles que aceitam ou não o que a companhia sugere.
A Oi iniciou o maior processo de recuperação judicial já realizado no Brasil, com um volume de débitos superior a R$ 65,4 bilhões. Cerca de metade de volume, entre R$ 32 bilhões e R$ 36 bilhões, é devido a investidores estrangeiros de mercado que possuem títulos de dívida emitidos fora do Brasil - a maioria herdada da malfadada fusão com a Portugal Telecom.
Ainda estreante na Oi, Tanure já tem comentado que a tele precisa de uma gestão comprometida com o longo prazo e profissional. Consta de sua lista de desejos a contratação da consultoria de Vicente Falconi (o guru das reorganizações operacionais), ganhos de eficiência e corte de custos. A grande dúvida é como o conselho vai se organizar com a chegada do empresário.