Gigante do setor têxtil na década de 1980, empresa de Blumenau está avaliada em R$ 160 milhões
Uma marca catarinense que completou 67 anos de história em janeiro de 2014 vai a leilão nesta terça-feira. A Sulfabril, indústria de malhas e confecções que atingiu seu auge na década de 1980, decretou falência em 1999. A marca Sulfabril e quatro unidades fábricas, sendo duas ainda em operação, estão avaliadas em R$ 160 milhões, que devem ser utilizados para quitar as dívidas de R$ 119 milhões, em valores atualizados pela Justiça. O leilão será na modalidade pregão, por carta fechada, no Cartório da 1ª Vara Cível do Fórum de Blumenau.
Comerciais em horário nobre das emissoras de televisão e empregando mais de 5.000 funcionários, a Sulfabril teve seu auge na década de 1980. Nos anos seguintes, com a abertura do Brasil para o mercado internacional e a mudança na direção, a empresa têxtil de Blumenau amargou balanços negativos até a derrocada final, em 1999, quando decretou falência.
A partir do ano 2000, o ex-secretário de Estado da Indústria e Comércio, Celso Mário Zipf, foi nomeado como síndico da empresa, que continuou em funcionamento. “Administrar uma empresa nessa situação é muito mais difícil, pois nenhum banco dá empréstimo para um negócio que decretou falência. Mas esta empresa chegou a ser a terceira maior do país e ao menos continua de pé”, disse.
A Sulfabril tem atualmente 700 funcionários e produziu 350 mil peças de roupa no ano passado. Com apenas duas fábricas em operação, o leilão deve pagar dívidas trabalhistas de antigos funcionários. “Segundo os valores atualizados pela Justiça, as dívidas com cerca de 2.400 trabalhadores somam mais de R$ 60 milhões. Essas pessoas estão há 15 anos esperando para receber. Por isso, torcemos para que a venda seja concretizada”, afirmou Vivian Bertold, presidente do Sintrafite (Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Blumenau, Gaspar e Indaial) e ex-funcionária da Sulfabril.
Após mais de uma década em tramitação na Justiça, o leilão foi marcado pela juíza do TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), Quitéria Tamanini Vieira Peres, em decisão proferida em fevereiro deste ano. Ela destacou que a venda era uma “providência há muito esperada por constituir medida necessária à efetivação do pagamento dos créditos.”
Negócio em família
O patriarca começa de baixo, se esforça bastante e consegue fundar a empresa que, após muito trabalho, se transforma em um império. Quando o patriarca se aposenta, os filhos deixam esse império ruir. Esse enredo trágico, tão comum em empresas familiares, resume bem a história do empresário Paulo Fritzsche, que construiu a Sulfabril e viu ela falir poucos anos após sua aposentadoria, quando ela estava sob direção do filho, Gerhard Fritzsche.
Segundo o professor de contabilidade empresarial da UFSC, Irineu Afonso Frey, algumas escolhas administrativas são decisivas para a queda de grandes empresas familiares. “Muitas companhias familiares não resistem ao primeiro processo de transição, quando há a passagem da direção do pai para o filho. É nessa hora que a família precisa decidir se vende o negócio ou opta por uma gestão profissional, limitando a interferência da família a um conselho gestor. A Gerdau fez isso em 2003 e continua grande até hoje. Outras empresas, como a Dudalina fez recentemente, escolhem pela venda quando a empresa está em bom momento”, disse o professor.
Como funciona o leilão
A leiloeira Tatiane Duarte vai administrar o leilão, que será em modalidade carta fechada, na 1ª Vara Cível do Fórum de Blumenau, amanhã às 15h. “As propostas de compra devem ser entregues até as 19h de segunda-feira, no fórum. Na mesma data, o pretendente deve fazer um cadastramento do site da empresa organizadora do leilão. No dia seguinte faremos a abertura desses envelopes com as propostas”, informou a leiloeira.
Caso não haja uma proposta única por todo patrimônio, ou que alcance pelo menos 75% (R$ 120 milhões) da avaliação inicial de R$160 milhões, durante a abertura dos envelopes, as regras do leilão preveem um desmembramento das propriedades. Explica a leiloeira: “Todas as propostas acima de 90% da maior oferta seguem para participar do leilão aberto. Se ninguém se interessar por todo patrimônio, abriremos as propostas para os três lotes resultantes do desmembramento do patrimônio. O primeiro inclui a marca e a parte em funcionamento, que conta com as fábricas de Blumenau e Ascurra; o segundo é a unidade desativada de Gaspar; e o último será a fábrica, também inativa, de Rio do Sul”.
BOX - Prazos
Dia 26/5:
- Entrega das propostas será aceita ate as 19h;
- Comprador deve se cadastrar no site www.superbid.com.br até as 23h59 para poder participar do leilão;
Dia 27/5:
- às 15h será realizada a abertura das propostas, depois, dependendo dos valores, ocorre a disputa entre os responsáveis pelas maiores ofertas
Valores
Lote único: Marca e quatro fábricas= R$ 160.179.843,70
Lote 1: marca Sulfabril e parte operacional (Blumenau e Ascurra) = R$ 149.301.019,12
Lote 2: unidade inativa de Gaspar = R$ 7.109.753,25
Lote 3: unidade inativa de Rio do Sul = R$ 3.769.071,33
Onde?
Cartório da 1ª Vara Cível da Comarca de Blumenau, na Rua Zenaide Santos de Souza, nº 363, bairro Velha