O leilão da marca e dos contratos com cerca de 40 franqueados da calçadista Via Uno deve ser realizado em fevereiro do ano que vem. A empresa também tentará vender as três fábricas na Bahia, que foram desativadas neste ano. Na semana passada, a companhia teve seu plano de recuperação judicial aprovado na terceira assembleia de credores e homologado pela Vara de Falências de Novo Hamburgo (RS).
Caso não apareçam interessados para as fábricas num prazo de 12 meses, seus equipamentos poderão ser oferecidos individualmente, informou o administrador judicial Laurence Bica Medeiros. A venda de ativos é decisiva para evitar a falência da empresa, que pediu recuperação judicial em setembro de 2013.
Conforme Medeiros, o arrematante da marca e da rede de franquias deverá assumir a maior parte do passivo de R$ 240 milhões sujeito à recuperação judicial. Ficarão de fora da conta dois empréstimos bancários com garantias reais, que somam R$ 15 milhões e serão quitados mediante dação em pagamento de outra fábrica e de um depósito em Novo Hamburgo, ambos também desativados, e a parcela dos débitos trabalhistas estimados em R$ 12 milhões que for coberta pela venda das unidades produtivas na Bahia.
O comprador da marca, que poderá bancar o lance vencedor com créditos contra a empresa, terá que cumprir as condições de pagamento das dívidas previstas no plano homologado pela Vara de Novo Hamburgo. O maior credor é o grupo Paquetá, de Sapiranga (RS), que chegou a negociar a compra da Via Uno e até pagou avais concedidos para a calçadista, com R$ 57,6 milhões a receber. O Valor entrou em contato com o grupo para falar sobre o assunto, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Para os débitos quirografários (sem garantia real), o plano prevê carência de 12 meses e, depois disto, prazos distintos de liquidação, que partem de 30 dias para valores até R$ 1 mil e chegam a 120 meses, em pagamentos mensais, para montantes superiores a R$ 600 mil. A correção será pela TR mais juros de 4% e 5% ao ano. Segundo o advogado, não será aplicado deságio sobre estas dívidas.
Já o passivo trabalhista terá de ser pago em parcela única em até 12 meses, corrigido pelo IGP-M. A Via Uno deve ainda R$ 40 milhões em impostos, que não serão assumidos pelo comprador da marca, sendo que parte deste montante foi inscrita no Refis da Copa, informou o administrador judicial. Quando pediu recuperação, em setembro do ano passado, a Via Uno tinha 1,8 mil funcionários - 1 mil deles nas fábricas na Bahia.
Há três meses, a companhia licenciou a produção dos calçados femininos da marca para a RR Shoes, no município gaúcho de Santo Antônio da Patrulha (RS), mas a expectativa de receita líquida com os royalties de 5% sobre as vendas da terceirizada, prevista em até R$ 250 mil por mês, será insuficiente para assegurar o pagamento dos débitos, mesmo com o alongamento aprovado pelos credores.