Sem caixa suficiente para honrar suas obrigações financeiras no curto e médio prazo, a diretoria-executiva Usiminas apresentou plano de injeção de capital na empresa com seus acionistas controladores e o conselho de administração. A operação envolveria uma ou mais de três pontos considerados plausíveis: aumento de capital, um empréstimo direto de seus controladores ou mútuos intercompanhias (como o uso do caixa da Mineração Usiminas).
Após divulgar o pior resultado de sua história ontem - um prejuízo de R$ 3,24 bilhões e um resultado operacional (Ebitda) pífio -, a diretoria da siderúrgica informou a analistas que nas primeiras semanas de março levará um plano mais detalhado para equacionar sua estrutura de capital e suavizar os problemas de liquidez e equacionar o endividamento de curto prazo.
A alternativa de suspender os pagamentos da dívida pelo prazo de 180, apresentada por um dos sócios controladores, seria um desastre para a empresa, disse ao Valor, o presidente da Usiminas, Rômel de Souza. "É uma decisão unilateral, que deixa a companhia sem nenhuma confiança e credibilidade no mercado, principalmente com seus credores, clientes e fornecedores", afirmou.
Para Souza, isso significaria acabar com a empresa. " A solução não é por aí. Queremos manter sua continuidade, não a destruição". Sobre de injeção de capital, disse que o conselho de administração reconheceu a necessidade e pediu à diretoria apresentação de uma proposta refinada, com formatos e valor, para avaliação em março.
Ronald Seckelmann, diretor financeiro da empresa, reforçou aos analistas que há consenso entre conselheiros e acionistas da necessidade da injeção de caixa.
Após a divulgação do balanço na manhã de ontem, o mercado mostrou preocupação com as condições da Usiminas. O BTG Pactual disse que a performance financeira deixa em risco o futuro da companhia. O Credit Suisse, por sua vez, afirmou que a liquidez e a solvência são "grandes preocupações" após "números fracos" do trimestre e do ano. Para o Itaú BBA, qualquer solução de curto prazo é ruim para os minoritários, pelo potencial de diluição e aventou a recuperação judicial.
A siderúrgica mineira terminou 2015 com endividamento bruto de R$ 7,89 bilhões e caixa de R$ 2 bilhões. A dívida líquida foi a R$ 5,86 bilhões, 2,6% a mais do que em setembro e 52,3% superior ao nível de dezembro de 2014. A avaliação é que se o patamar já é alto para quem está com Ebitda negativo e queimando caixa, o fato de os vencimentos do consumirem 95% desse caixa dificulta ainda mais.
Além disso, no próximo ano a empresa tem a honrar mais R$ 1,8 bilhão e R$ 2,16 bilhões em 2018. A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, chegou a 20 vezes e estourou os tetos impostos pelos credores. Um perdão, o chamado "waiver", foi conseguido no fim do ano.
Ao tentar conter a sangria de caixa - foram queimados mais de R$ 300 milhões só no quarto trimestre -, a Usiminas vai reduzir pela metade os investimentos em 2016, de acordo com Seckelmann. No ano passado, os gastos de capital foram de R$ 784 milhões, queda de 29,4%. E deve cair à metade desse valor nos aportes desde ano, indicou o diretor. A companhia também tenta se desfazer de ativos, principalmente da Usiminas Mecânica. Mas o executivo afirma que se a operação sair neste ano, só será fechada no segundo semestre. O Credit Suisse foi contratado.
No quarto trimestre, a receita líquida da siderúrgica encolheu em 7%, ante um ano atrás, e ficou em R$ 2,4 bilhões (a menor desde os mesmos três meses em 2008). A companhia teve Ebitda negativo de R$ 1,82 bilhão e ajustando o indicador para excluir efeitos não recorrentes, foi de R$ 249,9 milhões no vermelho. O prejuízo líquido foi de R$ 1,36 bilhão, mais de nove vezes o apurado 12 meses antes. As perdas totais do ano: 3,24 bilhões.
Neste ano, a expectativa é que as vendas de aço fiquem estáveis no mercado interno, mas o grupo espera reduzir significativamente as exportações, que por um bom momento em 2015 deram prejuízo. A Usiminas pretende produzir e vender cerca de 2,5 milhões de toneladas de minério de ferro, sendo 80% destinado a clientes do Brasil (para sua própria usina em Ipatinga) e 20% para exportação.
Segundo Souza, agora a empresa está ajustada ao tamanho do mercado brasileiro de aço plano para este ano - 10,3 milhões de toneladas no total. A projeção é que ficará ligeiramente abaixo das 4,9 milhões de toneladas vendidas no ano passado. "Com os ajustes operacionais feitos, como fechamento da parte de geração de aço em Cubatão, e um plano de recuperação aprovado, teremos um plano de voo diferente, com uma operação lucrativa", diz. A expectativa é que o mercado de aço só vai se recuperar em 2018.