Francisco Valim assume hoje o cargo de presidente da Nextel Brasil. Valim chega em um momento desafiante para a empresa, devido ao processo de consolidação do mercado brasileiro. Perguntado se foi contratado para preparar a Nextel para ser vendida, respondeu: "Não há qualquer transação em discussão. Se vier, é futuro. Não estou com mandato de banco de investimento para fazer 'shop-around' e levar para novos players."
Em uma rápida análise sobre consolidação envolvendo a Nextel, disse que uma eventual venda para a TIM faria sentido, "se tiver mais valia", tomando por base o comunicado enviado ontem pela TIM à Comissão de Valores Mobiliários, negando negociação entre as empresas. Sobre uma possível negociação com a Oi, afirmou não saber de nada concreto. "Nenhuma empresa é imune a transações. Veja os casos da GVT / Vivo e Brasil Telecom / Oi ", exemplificou.
A chegada de Valim à Nextel foi antecipada ontem pelo Valor PRO, o serviço de informação em tempo real do Valor. Valim substitui o executivo indiano Gokul Hemmady, que deixa a presidência da companhia e o grupo NII Holdings, dois anos no cargo.
Há meses há informações de que a Nextel estaria sendo negociada com TIM, segundo pessoas a par das conversas. Agora, o plano estaria se materializando como uma oferta não solicitada que a TIM prepara pela Nextel. No comunicado à CVM, a TIM afirmou que "não existe preparação de oferta em andamento para tal operação" e que considera "tratar-se apenas de rumores de mercado sobre cenários futuros". Contudo, a empresa informou que continua atenta a oportunidades que possam surgir.
O novo presidente reconhece que a Nextel é vista como ativo para aquisição, mas descarta que haja propostas. Uma potencial compradora seria a americana AT&T, que levou a Nextel México em janeiro. Como a AT&T ficou com a DirecTV e acabou levando no pacote sua subsidiária Sky Brasil, para executivos do setor faz sentido que a Nextel Brasil seja a próxima a entrar no portfólio da AT&T.
Depois de comandar a Via Varejo, até abril de 2014, Valim retoma o setor de telecomunicações. Ele comandou a Oi, a Net e passou mais de 12 anos na RBS. Na Oi, um dos principais motivos de sua saída foram divergências com os acionistas sobre investimentos. Valim queria mais recursos, que não foram aprovados.
Agora, na Nextel, disse que o investimento de R$ 1 bilhão neste ano, já anunciado, está garantido. A despeito de notas no relatório financeiro de 2014, publicado em junho, advertirem para a necessidade de cortar investimentos. Segundo Valim, a questão do investimento foi acertada antes de aceitar o cargo. Ele espera novos aportes para o ano que vem, mas disse que precisa analisar detalhadamente o negócio para saber o valor preciso.
Seu objetivo é investir em ampliação da cobertura de rede, parcerias, como a que já tem com a Telefônica, para usar sua rede 3G, aumentar a base de assinantes pós-pagos e a participação de mercado, além de melhorar a qualidade de serviços. Para tudo isso, precisará dos recursos prometidos.
A empresa também pretende participar do leilão de faixa de frequência de 1,8 gigahertz para serviços de 4G, em outubro, e já destinou recursos para isso, disse George Dolce, vice-presidente de marketing da Nextel.
Valim chega logo após a troca de controle da Nextel. Com a recuperação judicial e reestruturação societária, o controle passou da NII Holdings para o fundo Capital Research and Management (CapRe), com a fatia de 37,5%. O segundo maior acionista é o Aurelius Capital Management, com 11%.
Ao fim de 2014, a Nextel Brasil tinha dívida total de R$ 1,86 bilhão. A esse respeito, Valim afirmou que a dívida é corrente e sem pendências ou possibilidade de cobrança em curto prazo. Além disso, afirmou que todos os credores estão alinhados com a reestruturação da empresa.