A WeWork, empresa norte-americana de escritórios compartilhados, anunciou nesta semana ter "dúvida substancial" sobre sua capacidade de continuar operando.
11/08/2023
Após o alerta sobre uma possível falência, as ações da rede de coworking desabaram na bolsa de Nova York. Entenda o que está acontecendo com a companhia que há quatro anos era uma das startups mais apreciadas do mundo.
O que aconteceu
A WeWork não sabe se continuará operando. Logo após o aviso feito na terça-feira (8), na esteira da divulgação dos resultados do segundo trimestre, as ações caíram 24%. Na quarta-feira (9), a queda chegou a 36% na Bolsa de Nova York. No ano, a queda é de 85% — as ações valem cerca de US$ 450 milhões (R$ 2,2 bilhões). Em 2019, a empresa chegou a ser avaliada em US$ 47 bilhões (R$ 231 bi), antes da tentativa de abrir o IPO.
Empresa enfrenta uma sequência de prejuízos. No segundo trimestre, a WeWork registrou prejuízo de US$ 397 milhões. No mesmo período do ano passado, as perdas líquidas foram de US$ 635 milhões.
Empresa anunciou um plano para tentar uma recuperação. Em um comunicado ao mercado, a WeWork anunciou um plano para os próximos 12 meses, com redução das despesas com aluguel, limite de gastos, aumento da receita e busca de capital adicional por meio da venda de títulos da dívida ou venda de ativos. A empresa pode precisar considerar também uma recuperação judicial.
Empresa está em crise desde que entrou com a papelada para tentar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em 2019. Investidores apontaram problemas de governança envolvendo seu então fundador e presidente-executivo, Adam Neumann. A empresa, que tem entre seus investidores o SoftBank, vale hoje cerca de US$ 450 milhões (R$ 2,2 bilhões). Em 2019, chegou a ser avaliada em US$ 47 bilhões (R$ 231 bilhões).
Empresa é citada como exemplo de avaliações superinfladas comandadas por empresas de tecnologia. "A WeWork foi talvez a startup mais 'overhyped' dos últimos anos", disse à Reuters Steve Clayton, chefe de fundos de ações da Hargreaves Lansdown.
A situação da WeWork no Brasil
Empresa possui 32 imóveis próprios em oito cidades brasileiras. "As operações seguem normalmente", informou, em nota, a assessoria de imprensa da WeWork
O que a empresa diz sobre a crise
O modelo de negócio sofreu impacto com a pandemia. A proposta da empresa envolve fazer locações de longo prazo e alugar espaços por um curto prazo. Um modelo que se expandiu rapidamente ao longo dos anos, mas a pandemia global de coronavírus tornou o espaço de escritório compartilhado menos atraente.
Há excesso de oferta no setor imobiliário comercial. Com a tendência dos modelos híbridos de trabalho e home office, a procura pelo coworking também diminuiu. Segundo a empresa, a "volatilidade macroeconômica" teria contribuído para uma maior rotatividade de membros.
História da WeWork e de seu fundador excêntrico
Foi fundada em 2010 e logo se tornou a queridinha dos investidores. Nasceu com a estratégia de alugar prédios inteiros e sublocar salas e meses para quem não poderia pagar o aluguel de um espaço só seu. O Soft Bank chegou a investir US$ 10 bilhões na startup ao longo dos anos.
Crescimento global. A startup chegou a ter escritórios em 37 países, incluindo o Brasil.
Em 2019, entrou com um pedido de IPO e os problemas começaram a aparecer. Ao apresentar os documentos, ficou claro que a startup estava inflando os números, além de ter obrigações de US$ 47,2 bilhões a pagar.
Um CEO controverso. Adam Neumann teve uma queda tão espetacular como a sua ascensão, como definiu o Financial Times. O cofundador da WeWork colecionou polêmicas como compartilhar maconha e tequila e até proibir seus funcionários de comer carne. A história do folclórico fundador é contada ao longo de oito capítulos na série WeCrashed, em cartaz na Apple TV+.
Crise interna e mudança na liderança. Neumann foi acusado de discriminar e praticar assédio moral contra funcionários, sendo afastado do cargo. A denúncia foi feita pela ex-chefe de gabinete de Neumann, que ao engravidar avisou que não poderia mais acompanhar o chefe nas viagens devido ao seu hábito de fumar maconha durante os voos. A funcionária denunciou que sofreu discriminação, foi ridicularizada e marginalizada.
Novo CEO para salvar o negócio. Em 2020, Sandeep Mathrani, um executivo imobiliário, assumiu como CEO com a missão de salvar a WeWork, mas pediu demissão do cargo em junho deste ano.
Prejuízos e o impacto da pandemia. A WeWork só chegou a bolsa em 2021, após uma fusão com a BowX Acquisition Corp, sem o mesmo entusiasmo, valendo US$ 9 bilhões, bem abaixo dos US$ 47 bilhões de 2019, e tentando se recuperar dos impactos da pandemia — o prejuízo em 2020 foi de US$ 3,2 bilhões.
Empresa segue em busca de um novo CEO. A empresa fechou escritórios e cortou empregos em uma tentativa de recuperação, mas a saída de seu presidente-executivo e diretor financeiro no início deste ano complicou os esforços. A companhia queimou US$ 646 milhões em caixa nos primeiros seis meses de 2023 e tinha US$ 205 milhões em mãos no final de junho.
Imagem: Timothy A. Clary/AFP